A Páscoa já lá vai, mas a última semana foi de aleluia na Pasteleira, com a operação policial que ali decorreu e que conduziu à detenção de mais de uma dezena de pessoas. Diz o povo, na sua provecta sabedoria, que mais vale tarde que nunca e, portanto, justifica-se um elogio à intervenção mais musculada das autoridades, há muito reclamada por moradores, e que é a única forma de reprimir o flagelo da droga naquela zona da cidade do Porto.
Também foi bom saber, por intermédio do diretor nacional da PSP, que o local é considerado como o mais vigiado do país e que esta investida estava a ser preparada há cerca de dois anos.
Não tenho dados para desmentir Magina da Silva em relação à duração da vigilância, mas o testemunho de quem lida, todos os dias, com a criminalidade selvagem na Pasteleira e em Pinheiro Torres é bastante crítico com as autoridades e não se compadece com este quadro tão benevolente.
Mais ou menos antecipada, a ação de repressão parece-me inteiramente justificada e só peca por não acontecer mais vezes. Tal como o comandante nacional, não tenho ilusões quanto à hipótese de acabar com o flagelo da droga. O negócio e a adição são comportamentos inerentes à condição humana e não são retificáveis, muito menos pela via da força. Mas não pode vigorar a lei da selva e o absoluto desprezo pela ordem pública, castigando aqueles que são as grandes vítimas deste processo, que são os residentes das áreas mais afetadas. Nesse sentido, mesmo que não se possa parar o fenómeno, as autoridades têm a obrigação de fazer tudo para o condicionar e, sobretudo, impedir que perturbe o dia a dia das populações.
Estou certo de que esta rusga - a que se soma outra recente, no antigo Quartel de Manutenção Militar - vai contribuir para moderar os comportamentos marginais e desbragados que se assistem. Pelo menos durante algumas semanas. O que gostaria mesmo que acontecesse é que os efeitos fossem mais prolongados e que a normalidade voltasse àqueles bairros. Para isso, não bastam ações pontuais. São necessários mais meios e um quadro legal mais restritivo - sim, refiro-me à criminalização do consumo de droga nas ruas. Menos que isto, será uma questão de tempo até a situação regredir.
Presidente da Associação Comercial do Porto