Os homens iam para o mar. As mulheres vendiam o peixe ou empregavam-se em fábricas de conserva, todas situadas em Matosinhos--Sul. Era assim a vida da maior parte das famílias de Matosinhos, sobretudo até à década 70. Foi a partir daí que as grandes fábricas começaram a fechar. Algumas operárias ainda arranjaram emprego no sector têxtil. Mas a maior parte ficou mergulhada num desemprego que dura até aos dias de hoje.
Ao passear por Matosinhos-Sul, são poucas as carcaças visíveis dessas fábricas. Na década 60, chegaram a existir 50. Agora, quase todas são condomínios de luxo. A última fábrica a ser demolida foi a Algarve Exportadora, por alturas do Natal. Restam duas grandes unidades fabris: a Conservas Portugal Norte e a Pinhais, famosa por ainda hoje apenas utilizar métodos artesanais de fabrico.
Apesar disso, o sector não está morto, garante o secretário-geral da Associação Nacional da Indústria Conserveira. É que, embora existam 20 fábricas em todo o país, quando em 1938 eram 150, estas produzem 58 mil toneladas por ano, 60% das quais para exportação. O problema da indústria prende-se com o preço da principal matéria-prima: a sardinha, que chega a custar 40 euros por cabaz quando as fábricas só podem pagar 12 euros.
"São preços demasiado elevados. Por isso, fazemos acordos com a frota pesqueira, para fixar um custo médio do cabaz. Este ano, falhamos o acordo em Matosinhos. A continuar assim, há o risco de incumprimento dos contratos", diz Castro e Melo.
O dirigente prevê, assim, tempos negros para um sector com 150 anos e que actualmente rende 250 milhões de euros anuais. "Ou as fábricas recorrem à importação da matéria-prima ou são obrigadas a suspender a produção", adverte.
O recurso à importação da sardinha estragaria a marca das conserveiras, assente num produto 100% português, feito com sardinha fresca e os melhores azeites.