Um "placard" da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte pede "Proteja as dunas! Elas protegem-no a si". Plantado no último reduto dunar a sul da praia do Mindelo, Vila do Conde, o painel soa derradeiro apelo à consciência local: com a duna em recuo progressivo, o aglomerado urbano de férias implantado na zona interdunar poderá ser atingido se o mar galgar a barreira natural.
Há uma réstia de duna a resistir, mas está debilitada e a vegetação natural deste sistema recupera a custo, ainda atingida pelo pisoteio, apesar dos apelos oficiais e da sensibilização ambiental e do campo de paliçadas instalado para reter as areias.
António Ramos, concessionário de praia há sete anos, não está completamente insatisfeito. Apesar de tudo, o passadiço e a paliçada têm ajudado a segurar a duna, a recuperação e ampliação da esplanada refrescaram a apresentação da zona e, naquele troço, o recuo da costa não é sensível, segundo testemunha.
Testemunho mais antigo para dar tem Alzira Clementina, 77 anos, com o olhar espraiado da esplanada da praia do Mindelo em direcção ao tômbolo da Ponta da Gafa. "Do paredão para lá, tinha um grande areal e daqui a Árvore era tudo uma praia só", conta. "Está pior por causa dos esporões", assevera o marido, Claudino Gomes da Silva, 77 anos, com saudades dos tempos em que a praia tinha mais gente.
Imediatamente a norte, a situação é diferente. O mar continua a investir com violência contra a defesa aderente que há mais de uma dúzia de anos segura - já mais recuada para terra - o parque de estacionamento instalado na antiga duna.
Na base do enrocamento, junto ao topo norte da esplanada, são visíveis os sinais das arremetidas de Inverno, acordando as memórias de aflições de António Pires, 57 anos, o dono da tabacaria da esquina, tantas vezes a braços com a ameaça do mar que chegou a rondar a porta do edifício que também habita.
A obra de protecção ajuda, diz, mas em Invernos mais severos a resistência é mais difícil. No último, o mar acometeu fortemente contra o passadiço de instalação recente que estende o passeio para norte, destruindo escadas de acesso à praia e a sua extremidade, onde a rampa de acesso e o próprio passeio terminam num abismo.
Ao longo do paredão, são visíveis ataques do mar, que chegou a galgá-lo e a espalhar pedra e areia pela rua, escavando entre as rochas, ferindo a estabilidade da obra de defesa e descalçando algumas estacas do passadiço. A linha de costa tem recuado tanto que o mar no Inverno bate sempre nas pedras. "Nem é preciso haver tempestade", explica António Pires.
Numa das praias mais a sul, já perto de Vila Chã, o processo erosivo continua intenso. As escadas de acesso à praia estão danificadas e a duna está seriamente ravinada, com sinais de descalçamento recente, fazendo antever o pior.