Nacional

Bastonário dos médicos acusa ministro da Educação de "irresponsabilidade"

Carlos Cortes lamenta que João Costa tenha "lançado uma nuvem negra" sem antecipadamente informar a Ordem dos Médicos Pedro Correia / Global Imagens

O bastonário da Ordem dos Médicos acusa o ministro da Educação de "irresponsabilidade" por ter revelado, no Parlamento, sem antecipadamente reportar ao órgão que supervisiona os clínicos, que 20% das declarações passadas a professores em mobilidade por doença eram fraudulentas.

"É lamentável que o ministro da Educação tenha ido ao Parlamento com esses dados sem previamente e ao longo do tempo não ter comunicado à Ordem dos Médicos essas situações", afirmou Carlos Cortes esta quinta-feira ao JN.

Na comissão de Educação, anteontem, o ministro da Educação, João Costa, revelou, sem referir números concretos, que as juntas médicas realizadas aos professores que pediram destacamento por mobilidade por doença tinham sinalizado "20% de falsas declarações".

"É uma irresponsabilidade do ministro. Não se pode lançar uma acusação destas sem notificar a Ordem", insiste Carlos Cortes, alegando que desta forma a OM não pode exercer o seu papel de regulação ao nível deontológico e disciplinar.

Após receberam a devida informação, todos os médicos serão investigados, caso a caso, garantiu, defendendo não poder antecipar possíveis sanções já que as alegações terão de ser confirmadas. "Não sabemos o que aconteceu e pode ter acontecido muita coisa", desde logo, apontou, o estado clínico dos pacientes "altera-se" com o passar do tempo, podendo piorar ou melhorar. Portanto, frisou, "não sei se a informação que os médicos declararam não correspondia à realidade". Terá de ser averiguado pelos "órgãos próprios".

Artigo artigo 16323656 centro

"O senhor ministro lançou uma nuvem negra sobre este processo sem antecipadamente reportar nada", insistiu. Carlos Cortes sublinhou, aliás, que não é a primeira vez que a Ordem é ignorada no seu papel regulador pelo Governo e, por isso, apela "a um maior diálogo".

85 juntas médicas em abril

Após a aprovação de um novo regime de mobilidade por doença, o ministro da Educação anunciou em agosto a realização das juntas médicas. Em novembro, foi publicada uma portaria que autorizou a adjudicação de 7496 juntas médicas por mais de 400 mil euros.

Numa resposta a uma pergunta enviada pelo grupo parlamentar do PSD, datada de 26 de abril, o chefe de gabinete da ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Jorge Sarmento Morais, informa que as juntas médicas aos professores começaram a ser realizadas a 4 de abril estando previstas um total de 85 nesse mês.

"Não são do conhecimento do Governo as deliberações das juntas médicas já realizadas. Ademais, o número de juntas médicas já realizadas não permitia ao Governo avaliar a situação na sua globalidade", lê-se na resposta a que a o JN teve acesso. Jorge Sarmento Morais também revela que o Governo "está a proceder à elaboração de um quadro legal" que permita a professores, com doenças incapacitantes ou que tenham de acompanhar ascendentes ou filhos doentes, ter redução da componente letiva ou serem afetos a outras tarefas sem terem de recorrer "à mobilidade geográfica".

O JN confrontou o ministério da Educação com as declarações do bastonário, questionou o número de juntas realizadas e de falsas declarações sinalizadas, aguardando resposta.

De acordo com o decreto-lei nº 41/2022, de 17 de junho, que regula o novo regime de mobilidade por doença dos professores, "a não comprovação das declarações prestadas pelos docentes determina a revogação da mobilidade por motivo de doença, bem como a instauração de procedimento disciplinar e a comunicação ao Ministério Público para efeitos de eventual responsabilidade criminal a que haja lugar".

Alexandra Inácio