Radiografia da costa portuguesa

Porto Covo com arribas inseguras

Arriba da margem direita do pequeno porto piscatório de Porto Covo, concelho de Sines, está nas previsões de intervenção para a sua consolidação, devido à instabilidade, mas as preocupações maiores foram dirigidas este ano para intervenções de emergência na falésia do forte do Pessegueiro, afectada pelo rigor do Inverno que evidenciou o risco de derrocadas deste frágil sistema costeiro, abundante na costa oeste a sul o rio Tejo e na costa sul do país.

"A própria ilha do Pessegueiro tem sofrido grandes derrocadas e está a diminuir", conta Rui Cerqueira, sócio da empresa local de animação turística. Por causa dos ataques do mar? José Maria Mateus, 73 anos, abana a cabeça.

"Não é o mar, é a chuva e o vento - o mar nem chega tão alto", diz, apontando para mais de um terço da altura das arribas que suportam o Forte do Pessegueiro.

"Batem tanto no saibro que começam a desfazê-lo e depois rocha que está por cima fica descalça e cai", explica, apontando gigantescos blocos de rocha calcária tombados para a água.

No ano passado, a Administração da Região Hidrográfica do Alentejo identificou na zona várias arribas cuja instabilidade se agravou com as intempéries do Inverno e obrigou a intervenções de consolidação de emergência.

A arriba que suporta o forte, muito frequentada por visitantes, foi uma delas, no que parece ser quase uma derradeira tentativa para segurar a nesga de caminho que, sobre o precipício, bordeja a fortificação filipina (obra de Filipe I de Portugal, II de Espanha, que pretendia estabelecer ali um importante porto marítimo). Em Março deste ano, o local voltou a ser assinado como um dos pontos mais vulneráveis.

Indiferentes ao risco

Adiante, para Nascente, a parede natural da falésia exposta aos agentes naturais mostra com exuberância as suas três camadas principais - em baixo, o xisto sedimentar, depois o saibro, finalmente, a duna consolidada de calcário formada há pelo menos 40 mil anos, explica Joaquim Parrinha, 34 anos, fundador da "Ecoalga".

É uma das formações mais sensíveis à acção erosiva das chuvas e do vento, por causa do saibro "ensanduichado" entre as camadas rochosas: uma vez escavado, a duna consolidada parte-se em grandes blocos e a frente arriba desmorona-se.

No local, enormes blocos de desmoronamento e o pronunciado escavamento da camada de saibro prenunciam próximas derrocadas.

Na base da enorme arriba instável e, ainda por cima, batida pelo mar, pelo menos uma placa avisa para o perigo. Em vão: enormes inscrições pacientemente "gravadas" nessa camada por visitantes que a escalam mostram a indiferença face ao risco.