"Está um mar de senhoras", tranquiliza Lucindro António Albano, de 76 anos, enquanto mais um grupo de turistas entra no "Nana", uma embarcação com cinco metros de comprimento, com a qual realiza visitas guiadas às grutas da costa de Lagos desde que se reformou da pesca, há 15 anos.
Com o aproximar do Verão, são vários os antigos pescadores que atracam os barcos na foz da ribeira de Bensafrim, em plena Avenida das Descobertas, à cata de turistas que queiram conhecer as grutas e formações rochosas que se estendem desde a praia da Batata até à ponta da Piedade. "É para compor a nossa reforma de miséria", queixa-se Lucindro Albano, aqui nascido e criado.
Cada barco leva cinco turistas, que pagam por uma viagem de cerca de 45 minutos, entre 5 (criança) e 10 euros (adulto). Metade do preço cobrado pelas várias empresas a operar na zona, "todas elas exploradas por estrangeiros". "As empresas fazem as visitas em barcos grandes, que não entram nas grutas", diz o antigo pescador.
Partilhamos a viagem com Mari Luz Fernandez, o marido, Miguel Angel, e a filha de cinco anos, Luciana. São de Madrid e estão no Algarve pela primeira vez. "Apenas oito dias, porque não há muito dinheiro", explica Mari Luz, de 44 anos. Está, de facto, um mar de senhoras, o mesmo é dizer calmo, sem ondulação. Mal passamos a praia da Batata (assim designada porque outrora os militares despejavam ali as cascas de batata) avistamos as primeiras formações rochosas calcárias.
Dada a forma que algumas têm, foram-lhes atribuídos nomes: "O general de Gaulle", "O Elefante", "O Camelo", "A rainha Vitória", "O Arco do Triunfo" e há uma que alcunharam de "Mário Soares". O mesmo acontece com a grutas: "As Belas Artes", "A Cozinha", "A Catedral", entre outras. A pequena Luciana ri-se quando, ao entramos na "Gruta do Coração", temos que baixar a cabeça, para não bater com ela na rocha, à entrada.
No interior, percebe-se o porquê do nome. Olhando para cima, a abertura da gruta assemelha-se a um coração. "Esta água azul turquesa é lindíssima", sublinha Mari Luz.
Miguel Angel conta que já fizeram uma viagem semelhante na ilha espanhola de Lanzarote, "mas esta é muito mais bonita". "Em Lanzarote o mar é bravo, e por isso não podemos entrar nas grutas, como aqui", explica.
Não podemos demorar muito, pois o vai-e-vem de barcos é constante e chega a haver engarrafamentos. Cruzamo-nos com vários grupos de remadores de caiaque, como Raquel Ponce, 26 anos, e António Curado, 25, ambos de Gilena, perto de Sevilha (Espanha). Raquel conta que remar requer "muita força", mas a paisagem "merece bem a pena". "A água aqui é muito limpa, muito colorida, até se vêem os peixes e o fundo do mar", dizem.
Ficamos a conhecer diversas pequenas baías, de acesso mais ou menos difícil, mas nenhuma deserta. Qualquer recanto de areia é aproveitado para banhos de sol (incluindo por nudistas) e para a prática de "snorkeling" (mergulho apenas com a máscara e o tubo de respiração).
Enquanto conduz o barco de volta ao cais, Lucindro Albano desfia as contas do seu rosário. Começou na pesca aos 12 anos, porque "precisava de trabalhar". Com 20 anos, rumou ao Norte do país. Andou por Peniche, Figueira da Foz, Matosinhos. Apanhou alguns "sustos valentes" durante as fainas, mas nada de grave. Tem um filho e uma filha, mas desincentivou-os a seguirem a suas pegadas. "A pesca já não dá nada", lamenta.