Porto

Escola Pires de Lima fecha de vez ao fim de meio século de aulas

Magda Guimarães e Mariana Albergaria, professoras, com Lídia Rodrigues e Francisca Lobão, alunas, e Manuel Lima., diretor Igor Martins / Global Imagens

Redução do número de alunos na zona oriental do Porto torna dispensável aquele estabelecimento de ensino. Imóvel está degradado e com várias infiltrações.

Com vistas panorâmicas sobre o Porto oriental, no topo da Escola Pires de Lima, ao nível do 5.º andar, Francisca e Lídia projetam o futuro: no horizonte está o majestoso edifício ocre da Secundária Alexandre Herculano, onde vão entrar, em setembro, para uma nova etapa: o Ensino Secundário. Não puderam até agora estudar no histórico liceu, que está em obras desde o fim de 2019, mas dizem-se "ansiosas por estrear" o edifício renovado.

No dia da estreia da reabilitação da escola projetada no início do século XX pelo arquiteto portuense José Marques da Silva, já a "Pires de Lima", no Bonfim, terá os portões fechados de vez: o meio milhar de alunos do 5.º ao 12.º ano serão distribuídos por duas escolas: a "Ramalho Ortigão", para o 2.º ciclo, e a "Alexandre Herculano", para os restantes.

Labiríntica, numa arquitetura em altura alicerçada em escadarias infinitas, a Escola Dr. Augusto César Pires de Lima, criada há 51 anos e que chegou a albergar cerca de 1500 estudantes, "não vai deixar saudades", asseguram alunos e professores, que a veem como uma "fase transitória".

Bons professores

Degradada devido à falta de manutenção - várias salas têm infiltrações de água e o piso levantado -, a "Pires de Lima" já fora desativada em 2018, por falta de condições. Por outro lado, o número decrescente de alunos na zona oriental da cidade tornou-a dispensável, e a própria identidade da escola foi-se diluindo nos anos, acentuando-se com o encerramento temporário.

Reaberta em setembro de 2019 para substituir o "Alexandre" durante as obras, a antiga Escola Preparatória tinha várias carências. Mas nem tudo são desvantagens, garantem os alunos. "Pode não ter muitas condições, mas tem bons professores, e ensina-se bem", elogia Francisca Lobão, que revela gostar mais desta escola do que da "Ramalho Ortigão", que frequentou do 5.º ao 8.º ano - na "Pires" estão alunos do 9.º ao 12.º.

"Não tem tanto barulho, nem tantas confusões", diz Francisca, enquanto a colega Lídia Rodrigues nota que na "Pires" há mais espaços para tempos livres. "Na "Ramalho" não chovia nas salas, mas não havia muitos sítios fechados para ficarmos quando não havia aulas", compara.

"É muito sobe e desce, muito recanto", aponta a professora Magda Guimarães, que mudou do "Alexandre" para a "Pires" e anseia pelo regresso. "No início, foi difícil perceber esta arquitetura, que é muito "sui generis". Já passei por dez escolas, e são todas parecidas. Esta não, foge a tudo", observa Mariana Albergaria, que leciona Geografia e não conhece a escola Alexandre Herculano, que é "uma surpresa". "As expectativas são altas. Vamos estrear a escola, e esperamos que seja algo bom", diz Francisca, que sempre ouviu falar do liceu frequentado pelos pais e irmã.

"As pessoas fazem o dia a dia com normalidade, mas estão sempre com o olhar no outro lado da rua", nota o diretor do Agrupamento, Manuel Lima, a fitar o "Alexandre". Mas reconhece: "Independentemente das condições, esta escola [Pires], que inclusivamente já estava desativada, foi a possibilidade de encerrarmos aquela e garantirmos o funcionamento do agrupamento".

Fundação

Criada em 1972 para dar resposta ao elevado número de alunos do Porto, a Pires de Lima instalou-se na Rua D. João IV, mas a sobrelotação impôs a mudança, em 1980, para um edifício de traça moderna, ao cimo da Avenida Camilo.

Patrono

Augusto César Pires de Lima, professor nascido em Santo Tirso, em 1883, deu nome à escola. Foi ainda advogado, etnógrafo e filólogo.

Dificuldades

À degradação do edifício juntou-se o desinvestimento em equipamentos: faltam projetores e os laboratórios estão obsoletos.

5 blocos

O edifício tem cinco blocos, com salas de aulas e pátios, e um corpo central, com polivalente e vários serviços. Tem ginásio e campo de jogos.

Ana Correia Costa