"Não há forte nenhum!". Eugénia Silva, 43 anos, sorri com condescendência quando se pergunta pela construção militar que deu nome à praia. Já nem se vêem os vestígios que a literatura da especialidade menciona como avistáveis em marés vazias. "Só se forem as pedras arrastadas para a água", explica a empregada do bar. Recorda-se do forte na infância, que a Guarda Fiscal abandonou em 1976, com a ameaça do mar à arriba em que assentava.
Forte Novo é um troço simbólico da erosão costeira acelerada por causas humanas, devido à construção dos molhes da entrada da marina de Vilamoura (1973), ao campo de esporões criado em 1974 para proteger a Quarteira e, mais recentemente (1999), aos quebra-mares do porto de pesca. De uma taxa de recuo médio entre os 20 e os 80 centímetros por ano, passou-se para perdas de dois a três metros anuais, precisa o geógrafo Sérgio Oliveira, numa dissertação para tese de mestrado sobre a evolução no troço Forte Novo-Garrão.
Só entre 1991 e 2001, em dez anos, a linha de costa recuou 22,7 metros, a segundo a tese, apresentada em 2005 na Faculdade de Ciências de Lisboa, e a área perdida do bordo da arriba foi superior a 8,3 quilómetros quadrados.
Cláudio Dores, 31 anos, do bar "Forte Novo" tem na memória de menino a imagem de um areal maior - "muito maior do que este que agora arearam", compara. Fala alimentação artificial em curso entre Forte Novo e o Garrão, para alargar praia em 40 metros, mitigar o risco de erosão e robustecendo o troço costeiro para "responder às próximas tempestades", explica o painel da Administração de Região Hidrográfica do Algarve.
Porque as tempestades, testemunha Cláudio são vorazes. Dedo assestado à fotografia da zona que a sala de jantar ostenta, mostra o sítio onde se localizava o forte, algures na água, fala da invernia de 1998: "o mar comeu uns 20 metros à vontade!" Talvez exagere, mas não foge da realidade que aflige a zona há décadas e que exige medidas de protecção permanentes e não demasiado localizadas.
Apesar da alimentação artificial da praia da Quarteira, em 1999, com mais de 620 metros cúbicos de areia, o enchimento não teve efeitos fora dos esporões e a leste, o troço de Forte Novo foi fortemente erodido. Entre 1999 e 2001, a linha de costa recuou aqui 9,6 metros, o que representou uma taxa de erosão de 4,8 metros por ano, segundo Sérgio Oliveira, comprovando o efeito de retenção de areias pelas obras costeiras e o agravamento da erosão a sotamar daquelas e a necessidade de intervenções de realimentação ao longo da costa.
Na praia do Forte Novo, acabaram em Julho as obras de recarga da praia ("Tinha menos de um quarto do areal do que tem agora", conta Andreia, 28 anos, mulher Cláudio) com areias dragadas ao largo. Empreitada de 6,2 milhões de euros, cuja frente de obra está neste momento em Vale do Lobo, visa mitigar o efeito da ondulação enérgica na base das arribas e o consequente recuo da linha de costa. Quanto tempo durará esta areia na praia - um, dois, três ou mais anos, não há certezas. Mas parece consensual entre os especialistas que este método é mais eficaz e mais barato do que a construção de esporões e paredões.