São os felinos que mais perigo de extinção correm. Pela primeira vez, serão preservados e recuperados no Norte do país.
O Parque Biológico de Gaia vai acolher o primeiro centro de recuperação do lince-ibérico no Norte do país. Os animais, um macho e uma fêmea, chegarão até ao final do ano.
As obras para a construção do espaço que receberá esta espécie rara em vias de extinção, avaliadas em 377 mil euros, já arrancaram. Para o efeito, está a ser erguido nas instalações do Parque Biológico, em Avintes, um cercado próprio que vai permitir oferecer todas as condições aos linces.
"A ideia é que, no futuro, possam reproduzir-se", adianta Henrique Nepomuceno Alves, diretor do Parque Biológico de Gaia. "Para já, iremos receber apenas dois, não estando excluída a possibilidade de que outros venham mais tarde a juntar-se-lhes. Tudo dependerá do processo de ambientação dos primeiros", acrescenta.
Os linces-ibéricos serão acompanhados por uma equipa especializada, que os irá observar e monitorizar em permanência. Caso venham a nascer novas crias no Parque Biológico, será a primeira vez que se registarão nascimentos em cativeiro desta espécie a norte do rio Tejo.
risco máximo
"Trata-se de um trabalho conjunto entre Portugal e Espanha. Há regras apertadas de funcionamento que iremos cumprir fielmente para que os animais se adaptem perfeitamente ao nosso meio", aponta, por sua vez, Valentim Miranda, vereador do Ambiente Urbano e Espaço Público. "O objetivo é receber os linces ainda em 2023", reforça.
Além do Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico, em Silves, no Algarve, só é possível em Portugal ver de perto estes animais no Jardim Zoológico de Lisboa e no Centro de Interpretação e Observação de Mértola, no Alentejo.
Segundo o último censo sobre o lince-ibérico, realizado o ano passado, existem no nosso país apenas 261 espécies em liberdade, dos quais 175 de idade adulta. Encontram-se espalhadas pelas regiões do Alentejo, Algarve e Vale do Guadiana.
Só desde 2021, quando foi lançado o projeto "Lince Ibérico - Reintrodução em Portugal", que contou com o apoio de fundos europeus, nasceram 70 crias de um total de 24 fêmeas, contabilizou o Instituto para a Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
O lince-ibérico, lembra o ICNF, é o mamífero carnívoro mais ameaçado da Europa e o felino em maior risco de extinção em todo o Mundo, possuindo a categoria mais elevada - "Criticamente em Perigo" - atribuída pela União Internacional para Conservação da Natureza. "Recebendo-os no Parque Biológico, trabalharemos para a sua preservação e continuidade. Além disso, pretendemos funcionar como centro educativo, para que as pessoas os possam conhecer melhor", diz Henrique Nepomuceno Alves.
Espécie raríssima
Solitário e territorial, o lince-ibérico pode medir até 82 centímetros de comprimento e 50 centímetros de altura, pesando, em média, 15 quilogramas.
Reproduz-se entre janeiro e julho, em ninhadas que andam entre as duas e as quatro crias. Carateriza-se pelas carregadas pintas negras e, sobretudo, pelos tufos de pelo que lhes crescem em cada um dos lados da face.
No ano em que completa 40 anos de existência, o Parque Biológico de Gaia vê chegar novos habitantes, os linces-ibéricos, e atinge uma marca redonda. "Recebemos por ano 100 mil visitantes, que se dividem praticamente em partes iguais por escolas e pessoas individuais", revela Henrique Nepomuceno Alves, diretor do zoo do Parque Biológico, espaço com 35 hectares e 3,5 quilómetros de percurso pedestre inserido na malha urbana da freguesia de Avintes e no qual é possível encontrar 700 espécies animais e vegetais.
Para além da área de fauna e flora, o Parque Biológico de Gaia conta com outras valências, como a hospedaria, originalmente destinada a acolher 40 pessoas e que desde o início do ano passado é casa de ucranianos fugidos da guerra no país de origem.
O parque de autocaravanas é outro dos chamarizes do espaço. Tem capacidade para oito viaturas, estando em marcha um projeto que visa a sua ampliação. "Queremos dobrar o número de lugares", frisa o diretor. As obras deverão ficar concluídas até ao final do ano.
"A nossa filosofia passa por funcionarmos como um centro de recuperação de animais selvagens. Recolhemos exemplares feridos e deslocados do seu ambiente natural, os quais tratamos e depois procuramos sempre devolver à natureza. Quando tal não é possível, ficam acolhidos no nosso meio", descreve Henrique Nepomuceno Alves.
Há ainda o caso de exemplares únicos em Portugal, como é o caso dos imponentes bisontes-europeus, extintos em todo o continente desde 1921 e apenas preservados em cativeiro em ambientes controlados, como jardins zoológicos.