Nuno Rogeiro

Nos países das maravilhas

1.Foi preciso muito esforço para convencer a classe política doméstica a reconsiderar, na escandalosa acumulação de pensões de reforma e salários activos. O que será necessário para mudanças maiores?

2. Aprovado que está o "orçamento péssimo", importa agora perceber como é que, na especialidade, se doura a pílula.

3. Aprovado que está o "orçamento inevitável", num mecanismo que parece mais de chantagem sobre o facto consumado do que de "franca negociação", importa saber se o PSD vendeu a alma pelo preço certo. Isto é, pela certeza de que, com este balão de oxigénio, o Governo vai finalmente eliminar o peso inútil do Estado, de forma a subsidiar o seu peso útil.

4. Aprovado que está este orçamento, é urgente que seja explicado o plano de corte drástico nas entidades públicas e parapúblicas, mediante encerramentos e extinções. Um bom começo seria o fim das entidades reguladoras de uma série de serviços.

5. Ou a fusão das entidades que tratam da segurança alimentar.

6. E a extinção - não substituição - da frota de representação do Estado.

7. E uma moratória (de dez anos, por exemplo) sobre funções sociais, celebrações, encontros e simpósios a nível central, regional e local, a não ser que o subsídio venha do sector privado.

8. E a possível fusão de ministérios (Educação, Cultura, Ciência, por exemplo, havendo outras ideias).

9. E o abandono de muitas obras públicas (sabem bem quais). Seriam óptimas no país óptimo, mas inviáveis no país previsível.

10. E a revisão profunda das quantias gastas com o "serviço público" de rádio e televisão.

11. E a revisão imediata do chamado "outsourcing", destrinçando as situações onde o Estado não tem estruturas capazes, e aquelas onde tem, e onde estas podiam actuar em vez das entidades externas.

12. Os EUA possuem muitos problemas semelhantes, a escalas diversas. Parece injusto que Obama tenha de pagar pelos pecados dos pais.

13.Pode ainda dizer-se que, face a um congresso bloqueado, o presidente será relevante: mas sem poder legislativo, nem a possibilidade de dissolver as câmaras, resta-lhe pouca vida autónoma, para além do poder de mensagem.

14. O partido da "revolta do chá" é um movimento subversivo. Convém não o olhar como um grupo igual aos outros.

15. Já não há negros no Senado americano. Triste epitáfio de dois anos de "renovação".

NUNO ROGEIRO