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Detetados mais microplásticos em garrafas de vidro do que nas de plástico

Os cientistas encontraram quase 100 partículas de microplásticos por litro em garrafas de vidro de refrigerantes, limonada, chá gelado e cerveja Foto: Sebastien Salom-Gomis/AFP

As garrafas de vidro que contêm água, refrigerantes, cerveja ou vinho contêm mais microplásticos do que o equivalente em garrafas de plástico, de acordo com um estudo publicado esta sexta-feira pela agência francesa de segurança alimentar.

Os cientistas têm detetado minúsculos pedaços de plástico, na sua maioria invisíveis, em todo o lado: do ar que respiramos à comida que consumimos e ao interior do corpo humano. 

Embora não existam provas diretas de que a presença em larga escala de plástico seja prejudicial à saúde humana, estas conclusões abrem um novo campo de investigação.

Segundo explicou Guillaume Duflos, diretor de investigação da agência francesa de segurança alimentar ANSES, o objetivo era "investigar a quantidade de microplásticos em diferentes tipos de bebidas vendidas em França e avaliar o impacto dos diferentes tipos de embalagem".

Em média, os cientistas encontraram quase 100 partículas de microplásticos por litro em garrafas de vidro de refrigerantes, limonada, chá gelado e cerveja. O resultado representa entre cinco e 50 vezes mais do que a taxa detetada em garrafas de plástico ou latas de metal.

"Esperávamos o resultado oposto", disse à AFP a estudante de doutoramento Iseline Chaib, que participou no estudo. As amostras detetadas apareceram principalmente nas tampas das embalagens.

"Detetámos que, no vidro, as partículas tinham a mesma forma, cor e composição de polímero — portanto, o mesmo plástico — que a tinta na parte exterior das tampas que fecham as garrafas de vidro", explicou.

A tinta nas tampas também apresentava "pequenos arranhões, invisíveis a olho nu, provavelmente devido à fricção entre as tampas quando estavam armazenadas", destacou a equipa.

No caso da água, tanto natural como mineral, a quantidade de microplásticos era relativamente baixa em todos os casos: entre 4,5 partículas por litro nas garrafas de vidro e 1,6 nas garrafas de plástico.

O vinho também continha poucos microplásticos, mesmo em garrafas de vidro com tampas. Segundo Duflos, a razão da discrepância "ainda precisa de ser explicada". Os refrigerantes, no entanto, continham quase 30 microplásticos por litro, a limonada 40 e a cerveja cerca de 60.

Por não existir um nível de referência para uma quantidade potencialmente tóxica de microplásticos, atualmente não é possível afirmar se estes números representam um risco para a saúde, indicou a ANSES.

Contudo, os fabricantes de bebidas poderiam reduzir facilmente a quantidade de microplásticos libertados pelas tampas das garrafas, acrescentou. A agência testou um método que envolvia limpar as tampas com ar e enxaguá-las com água e álcool, o que reduziu a contaminação em 60%.

AFP