Opinião

Ódio à vontadinha

“É duro escrever isto. Mas é mais duro calar”. O desabafo é de Carla Nunes Semedo, vereadora da Câmara de Cascais, que denunciou nas redes sociais um ataque racista contra a filha feito por um motorista de um transporte público. “Achou por bem dizer-lhe que não transportava animais. Sim, em 2025. Em Portugal. Em Cascais”.

O caso é apenas mais uma prova do “à vontadinha” do discurso de ódio. Cada vez mais desenvergonhado e amplificado. Não é apenas uma perceção. Houve um aumento acentuado, diz-nos o Conselho da Europa. Cresceu 200%, acrescenta a Direção-Geral da Política de Justiça. O caso da filha da vereadora, o ataque ao ator em Lisboa, a agressão no Porto a voluntárias que prestavam assistência a um estrangeiro sem-abrigo e o desmantelamento do grupo neonazi que ponderou invadir o Parlamento e o Palácio de Belém provam a banalização.

O cenário agrava-se quando lemos no Digital News Report que a confiança nas notícias em Portugal atingiu o seu valor mais baixo em dez anos. É precisamente neste terreno extenso de desconfiança que o discurso de ódio se propaga com facilidade.

Tal como no resto do Mundo, a dependência de redes sociais, plataformas de vídeo e agregadores online cresce. Hoje, seis redes sociais atingem mais de 10% do público semanal com notícias, contra apenas duas há dez anos, refere o Digital News Report.

Combater este fenómeno exige, portanto, mais do que indignação. Exige uma regulamentação eficaz das plataformas, literacia mediática, responsabilização criminal e, sobretudo, reforço do jornalismo que informa.

Manuel Molinos