Os irmãos Sérgio e Nélson Rosado reclamam um milhão e 118 mil euros de indemnização à humorista por alegados danos provocados por uma piada sobre a interpretação do hino nacional protagonizada pela dupla, em 2022.
Tudo começou há três anos, com uma publicação no Instagram da humorista Joana Marques, que gerou uma polémica judicial entre a comediante e a dupla musical Anjos.
No vídeo, Joana Marques recorreu ao humor satírico para criticar a interpretação do hino nacional pelos irmãos Sérgio e Nélson Rosado, antes de uma prova do MotoGP em Portimão, combinando imagens da atuação com reações do júri do programa “Ídolos”, inclusive da humorista.
O vídeo, publicado em abril de 2022, provocou uma onda de críticas e acusações por parte dos Anjos, que afirmam ter sofrido prejuízos financeiros e danos à reputação devido à divulgação do conteúdo.
Depois de várias tentativas infrutíferas de diálogo e pedidos para a remoção da publicação, os músicos decidiram avançar para a via judicial, exigindo uma indemnização no valor de um milhão e 118 mil euros.
O processo foi instaurado em junho de 2024, no Juízo Central Cível de Lisboa, e já passou por uma audiência preliminar sem acordo. As sessões de julgamento decorrerão esta terça e quarta-feira, 17 e 18 de junho, com a presença confirmada dos irmãos Rosado, embora não se saiba se Joana Marques irá marcar presença em tribunal.
A humorista tem tratado o caso com alguma leveza, chegando a comentar, em tom irónico, que o processo “tem coisas muito engraçadas” e que encara o episódio com curiosidade, sem deixar que o tema lhe tire o sono.
Do lado dos Anjos, a queixa vai além do humor: acusam Joana Marques de manipular imagens e de ter causado uma campanha de “ciberbullying”, que afetou diretamente a sua carreira, incluindo o cancelamento de concertos e perdas de patrocínios, tanto em Portugal como nas comunidades portuguesas no estrangeiro.
A dupla alega que a ação teve um impacto grave não só sobre eles, mas também sobre toda a equipa que os acompanha, incluindo músicos e técnicos.
Revolta de terceiros
Enquanto colega de profissão de Joana Marques, o humorista Ricardo Araújo Pereira manifestou-se com alguma revolta no podcast que partilha com José Diogo Quintela e Miguel Góis.
“É um vídeo que a Joana fez no Instagram, um vídeo que tem um minuto. Esse vídeo de um minuto que produziu um ‘estrago’ no valor de 1,1 milhões de euros. O que os Anjos alegam é que o vídeo lhes causou um dano de quebras de contratos, produtores que deixaram de os convidar para trabalhar, dar concertos. Ora, a própria agência revela que eles nos últimos, sei lá, 12 anos, faturaram anualmente um pouco acima de 200 mil euros. Portanto, o vídeo de um minuto da Joana fez com que eles tivessem um prejuízo equivalente a sete anos de trabalho. Eles voltaram a trabalhar e bem – não se têm queixado”, explicou.
Para o humorista, provar a relação direta entre o vídeo e os alegados danos financeiros “é um bocado difícil”, uma vez que as imagens originais não são da autoria de Joana Marques e já circulavam antes da sua publicação.
O desfecho do caso poderá ter implicações importantes para o meio artístico e para a forma como se equaciona a linha entre humor e responsabilidade no espaço público.