Justiça

"Agressões a profissionais de saúde podem levar a baixas prolongadas"

Cristiana Almeida revela que não é no Serviço de Urgência dos hospitais que se registam mais casos de violência Foto: Pedro Correia

A médica Cristiana Almeida é o ponto focal do Plano de Ação para a Prevenção da Violência no Setor da Saúde na ULS do Santo António e, ao JN, confirma que há mais profissionais de saúde a denunciar casos de violência. No entanto, não sabe se mais sinalizações significam mais agressões.

A agressão a profissionais de saúde na ULS Santo António é um problema grave?

Qualquer agressão é grave, seja na forma de violência moral, verbal, física, porque estamos a lidar com vidas e acaba por ocorrer uma diminuição da capacidade de cuidar. Além disso, temos tido, graças também a estas ações de sensibilização que permitem um maior conhecimento desta matéria, mais notificações de casos.

Mais denúncias significam mais casos?

Sabemos que há um iceberg, cuja base não é conhecida. Mas desde que esta matéria passou a ser reconhecida a nível social e na nossa realidade institucional, os profissionais sentiram que têm o dever de notificar. E ao notificar cada vez mais casos, a situação parece ser mais grave, ou mais frequente, mas não o é necessariamente.

A urgência é o serviço hospitalar com mais episódios de violência?

O serviço de urgência é, efetivamente, um local de tensão, mas todos os outros serviços também são um alvo. Na consulta externa temos atendimento direto e no internamento também há casos. O serviço de urgência não é o espaço com mais episódios de violência

Qual é?

Nos serviços que lidam com a receção de utentes e nas consultas acaba por existir, necessariamente, mais violência ou mais notificações de violência. Não podemos esquecer que a notificação está dependente também do próprio alvo de violência e se este está “habituado” a sofrer mais violência pelo contexto da sua realidade hospitalar, do seu local de trabalho específico, pode entender que não há necessidade de notificar os casos. Pode ser essa a realidade da urgência.

Que impacto poderá ter uma agressão num profissional de saúde?

Acaba por ter medo de estar no seu local de trabalho e isso pode levar a baixas prolongadas. Que eu tenha conhecimento, ainda não houve casos desses, mas só conhecemos a ponta do iceberg.

O apoio às vítimas é fundamental?

Perante uma ocorrência, pretendemos prevenir danos sobre a vítima e tomamos medidas. É importante o apoio psicológico e, nalguns casos, pode haver necessidade de apoio jurídico. É importante que as vítimas peçam estes apoios.

Que medidas estão implementadas para prevenir agressões?

Temos códigos de conduta, temos ações de formação e de capacitação no âmbito da comunicação. E, depois, há ações de formação e capacitação para a ação, em que os profissionais são treinados para, perante uma ocorrência de violência ou de iminência de violência, saberem como devem reagir

O objetivo é evitar o conflito?

Exatamente. A maneira como lidam com o outro será importante para diminuir o próprio conflito.

Se algum profissional for agredido tem apoio psicológico garantido?

Tenta-se assegurar que tenha. Temos, a nível nacional, psicólogos disponíveis para apoios, mesmo que não seja diretamente na instituição da vítima.

Roberto Bessa Moreira