Durante a década de 30 do século XX, Japão e Alemanha podiam ter escolhido o caminho do pós-guerra com o crescimento económico assente no comércio internacional. No entanto, as suas elites políticas optaram por construir impérios na Ásia e na Europa. Os impérios assentam na criação de grandes espaços económicos, com população e recursos suficientes para crescerem através de mercados próprios. Para além de promoverem o expansionismo territorial e político, baseiam-se numa visão da economia e do comércio como instrumentos de poder e de dominação. Assim, o comércio internacional é um jogo de soma zero, onde o que um ganha o outro perde, desprezando-se a possibilidade de todos beneficiarem mutuamente da troca internacional.
Hoje, a Administração Trump parece defender uma nova ordem mundial governada por três estados-império, a partir de Washington, de Moscovo e de Pequim, mas com primazia americana. As tarifas anunciadas pela Administração Trump, tal como as pretensões americanas sobre a Gronelândia, são uma consequência lógica desse tipo de ordem mundial. Assim, é expectável uma quebra das trocas globais, passando estas a ser feitas dentro de blocos económicos tendencialmente autossuficientes. É esse o resultado da reorganização da geopolítica mundial que afetará inevitavelmente a Europa e outras áreas do Mundo, como a Ásia, desde logo Taiwan. As esferas de influência subjacentes a essa lógica irão implicar uma perda ou limitação de soberania dos restantes estados incapazes de competir no mesmo plano de poder.
Sabemos o que aconteceu no Mundo da primeira metade do século XX, pelo que podemos imaginar onde nos poderá conduzir uma lógica “neoimperial” no Mundo do século XXI. Uma reorganização geopolítica global desse tipo levará a um aumento dos riscos de conflitos político-militares, incluindo os riscos de conflito nuclear e de ciberataques de grande dimensão. Naturalmente que tudo isto preocupa também as empresas e empresários que, com a globalização em estilhaços, passaram a ter de atuar num ambiente instável marcado pela fragmentação geoeconómica e crescentes riscos geopolíticos. Estas preocupações estão bem patentes no primeiro Barómetro do Observatório do Risco Geopolítico para Empresas da Porto Business School, que identifica os ciberataques a infraestruturas críticas como o maior risco no curto prazo e o segundo no médio e longo prazo. Seguem-se uma potencial crise financeira global severa e os conflitos comerciais entre EUA, China e UE, ambos apontados como ameaças significativas à estabilidade económica e empresarial.
Uma reflexão final. Com o decurso do tempo, a memória coletiva da tragédia da Segunda Grande Guerra está a dissipar-se. Todavia, no Mundo atual, liderado pela geração dos baby boomers que beneficiaram da paz e da prosperidade pós-Bretton Woods, impõe-se evitar os erros cometidos no passado século XX.