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Dos lucros ao pior serviço da década: o que se está a passar com a CP?

Há cada menos comboios a circular em todo o país Foto: Paulo Novais

Há mais passageiros e mais dinheiro a entrar nos cofres da transportadora, mas os comboios são cada vez menos e os incumprimentos dos horários estão a bater recordes desde 2014. A contestação dos trabalhadores também não pára e as supressões acumulam-se todos os dias. Saiba aqui o que se passa com a empresa pública.

A CP alguma vez deu lucro?

Sim. O primeiro lucro da história da empresa foi em 2022. Foram oito milhões de saldo positivo nesse ano. Em 2023, novo sinal positivo para a empresa que fechou as contas com um resultado líquido de 3,6 milhões de euros. O relatório e contas de 2024 ainda não é conhecido, mas o jornal "Eco" avançou que a CP teve capitais próprios de 388 milhões de euros e o passivo baixou para 269,5 milhões, o que faz antever o terceiro ano consecutivo com lucros.

Há mais passageiros a utilizar comboios?

O número de pessoas a utilizar a ferrovia acelerou nos últimos anos. Em janeiro e fevereiro, a CP transportou 32 milhões de passageiros, mais 2,5 milhões do que no período homólogo. A procura elevada resultou em 35,2 milhões de euros de receitas, mais 2,5 milhões do que em janeiro e fevereiro de 2024. 

Mas há mais: a CP transportou no último ano mais de 185 milhões de clientes, um aumento de 12,8 milhões face a 2023. A gratuitidade dos passes para os jovens e a redução dos preços para os restantes passageiros contribuiu para a procura elevada.

E o serviço prestado acompanhou os recordes de passageiros e as contas?

Não. A verdade é que o serviço está pior do que há dez anos, quando a Infraestruturas de Portugal (IP) começou a gerir a rede ferroviária nacional. O índice de pontualidade dos comboios roçou os 78,3% em 2024, estando a piorar consecutivamente desde 2022. Nestas contas entram também os serviços dos comboios da Fertagus, em Lisboa. Em 2014, o mesmo índice estava nos 85%. 

Ao JN, a CP refere que a pontualidade dos comboios foi de 74% em 2023 e 65% em 2024, ainda pior do que os números plasmados nos relatórios da IP. 

Ao mesmo tempo, o número de comboios a circular nos carris também são menos. Em 2022 foram planeados 431 907 comboios; 431 280 em 2023 e 425 492 no último ano.

E quais são as razões para os atrasos dos comboios?

As greves também estão a causar constrangimentos?

Também. Nos últimos dias foram cancelados milhares de comboios. Na CP, dos 425 492 planeados para 2024 foram suprimidos 11 004. 

Os dados da Autoridade para a Mobilidade e dos Transportes (AMT), que juntam CP e Fertagus, apontam que entre 2019 e 2023, foram suprimidos 62 795 comboios. Mais de metade (35 076) não realizaram o serviço em 2023, um ano fortemente marcado por greves.

E as queixas estão a aumentar?

O Portal da Queixa aponta que a CP foi alvo de 45% das reclamações registadas na categoria Comboios e Metropolitano. E nos últimos dias, por via da paralisação dos trabalhadores, observou-se a maior média diária de reclamações do ano. 

Entre os principais problemas apontados à CP pelos clientes estão os "atrasos, supressões de comboios e greves".

A CP está a gastar mais com os trabalhadores?

A empresa pública gasta com pessoal 175 milhões de euros, são mais 71,6 milhões de euros do que em 2014. O aumento de funcionários e as valorizações salariais explicam a despesa.

Em 10 anos, os custos aumentaram de 103,34 milhões de euros em 2014 para 175 milhões de euros em 2024. As subidas mais significativas registam-se desde 2019, ano em que foram canalizados nesta rubrica 109 milhões de euros. Em 2020 disparou para 138,84 milhões e em 2021 para 145,77 milhões. Já em 2022 nova subida para 151,54 milhões e em 2023 para 160,5 milhões.

Abílio T. Ribeiro