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Relatora da ONU denuncia dezenas de empresas na "economia do genocídio" feito por Israel

EUA pedem demissão de Albanese por “guerra económica”, após relatora constatar que as empresas se adaptaram ao “genocídio” Foto: Eyad BABA / AFP

Documento apresentado esta quinta-feira detalha como corporações de diversos setores contribuíram para campanha israelita contra palestinianos.

A relatora especial da ONU para os territórios palestinianos ocupados divulgou um relatório em que menciona dezenas de corporações, de fabricantes de armas a empresas tecnológicas e bancos, que “lucraram com a economia israelita de ocupação ilegal, apartheid e agora genocídio”. Francesca Albanese propôs medidas como um embargo a Israel, sanções, além de reparações aos palestinianos.

“Ao ajudar a militarizar e incentivar a presença ilegal israelita no território palestiniano ocupado, o setor empresarial contribuiu para a criação das condições para a limpeza étnica palestiniana”, afirma o documento, que refere o papel “fundamental” de tais entidades para sufocar a economia da Palestina.

Albanese cita fabricantes de armas israelitas (Elbit Systems e a estatal Israel Aerospace Industries), e estrangeiras, incluindo a americana Lockheed Martin, responsável pelo programa dos caças F-35. Tais aeronaves, em conjunto com os F-16, lançaram “cerca 85 mil toneladas de bombas, muitas delas não guiadas, para matar e ferir mais de 179 411 palestinianos e destruir Gaza”.

A transportadora Maersk, da Dinamarca, é denunciada pelo envio de armas, peças e matérias-primas para Israel. Itens de uso duplo, como escavadoras da americana Caterpillar, e maquinaria pesada da sul-coreana HD Hyundai e da sueca Volvo, destroem propriedades palestinianas e constroem colonatos, alega.

Tecnológicas dos EUA, nomeadamente Amazon, Google, HP, IBM e Microsoft, prestam vários serviços de computação a Telavive, como a recolha e o armazenamento de dados, além de ferramentas de inteligência artificial, que auxiliam na monitorização dos palestinianos. Em Israel, há a empresa NSO Group, criadora do Pegasus. O programa de espionagem de telemóveis vigiou ativistas palestinianos e foi vendido para diversos países, que monitorizaram políticos, jornalistas e defensores dos Direitos Humanos.

O relatório menciona empresas do setor energético e de combustíveis, como a americana Chevron e a britânica BP, do turismo, como Airbnb e Booking.com, da agricultura e do retalho. “Em muitos países, não há distinção entre os produtos de Israel e os das suas colónias. Mesmo na União Europeia, onde a rotulagem é obrigatória, estes produtos são ainda permitidos no mercado, e a responsabilidade recai sobre os consumidores desinformados”, acrescenta.

Albanese condena ainda os “facilitadores”, como instituições bancárias (a francesa BNP Paribas e a britânica Barclays), gestoras de ativos (as americanas BlackRock, Vanguard e PIMCO, subsidiária da alemã Allianz) e fundos soberanos e de pensões. Estes investem em empresas como as já citadas e até mesmo em títulos da dívida pública de Israel.

Sugere embargo e sanções

A relatora insta os países a imporem sanções e um embargo total de armas a Israel, além de suspenderem acordos comerciais e congelarem bens de entidades e indivíduos “envolvidos em atividades que possam colocar os palestinianos em perigo”, e ainda responsabilizarem corporações. Sugere às empresas que cessem atividades com aqueles que cometem crimes “contra o povo palestiniano”, bem como que paguem compensações, “incluindo sob a forma de um imposto sobre a riqueza do apartheid, nos moldes da África do Sul”. Pede mais investigações criminais e apoia atos civis de boicote.

Gabriel Hansen