Cultura

Subimos ao “Mont Ventoux” e não queremos descer

"Mont Ventoux" de Kor´sia fechou certame Foto: Direitos Reservados

Festival Dias da Dança encerrou com ovações de pé para espanhóis Kor’sia, no Teatro Rivoli, no Porto.

O Festival Dias da Dança que terminou este domingo prova que a definição de dança pode ser cada vez mais ampla e as fronteiras com as disciplinas vizinhas mais ténues. Mas, terminar o certame com um banquete de virtuosismo e técnica como o que foi servido pelo coletivo espanhol Kor’sia, em “Mont Ventoux”, no Teatro Rivoli, no Porto, foi um deleite para os amantes da dança em pleno uso.

A coreografia chegou ao Porto já com um selo de qualidade, pelos múltiplos prémios que tem arrecadado desde a estreia. Mas, o espetáculo inspirado na obra literária de Petrarca, não se limita a ocupar o palco, esculpe-o com uma cenografia arrebatadora que respira com os corpos – como matéria viva.

Não há gesto gratuito: cada movimento pulsa com urgência interior. A verticalidade da peça não é apenas topográfica, é ética e quase espiritual. A criação das diagonais, a velocidade do movimento e a sua detenção contida, com recursos à isometria, quase como se a gravidade fosse apenas uma opinião, e o uso constante de níveis, são um delírio visual. A música e a luz obedecem ao mesmo rigor.

O problema de se subir a um “Mont Ventoux” é que não queremos descer – e não estamos a falar de alpinismo.

Catarina Ferreira