Washington acusa Kiev de ter introduzido um obstáculo na última versão do documento, que havia sido aprovada pelas duas partes no fim de semana.
Após meses de tensas negociações, Washington e Kiev declararam hoje estar prontos a assinar o acordo que dá aos Estados Unidos o acesso aos minerais estratégicos da Ucrânia, o que deveria acontecer ainda na noite desta quarta-feira em território norte-americano. “Alterações de última hora”, imputadas aos ucranianos, geraram, contudo, incerteza quanto ao momento em que a assinatura deverá ocorrer.
“O nosso lado está pronto para assinar. Os ucranianos decidiram ontem à noite fazer algumas alterações de última hora. Temos a certeza de que vão reconsiderar isso e estamos prontos, se eles estiverem”, declarou hoje o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, aos jornalistas na Casa Branca, tendo negado que os Estados Unidos tenham feito qualquer tentativa para alterar a versão do documento com que as duas partes concordaram no fim de semana.
A vice-primeira-ministra e ministra da Economia ucraniana, Yulia Svyrydenko, estava hoje a caminho de Washington para a assinatura do acordo, que concede aos Estados Unidos acesso aos depósitos minerais da Ucrânia, entendido como fundamental nos esforços de Kiev para restaurar os laços, cada vez mais agastados, com o presidente Donald Trump e a Casa Branca, enquanto Trump tenta garantir um acordo de paz na guerra da Rússia na Ucrânia.
Um esboço da versão principal do acordo sobre minerais, a que a agência Reuters teve acesso, mostrava que a Ucrânia tinha garantido a remoção de qualquer exigência de reembolso aos EUA pela assistência militar anterior, algo a que Kiev se havia oposto veementemente.
Trump reiterou, no entanto, esta quarta-feira que os EUA deveriam receber algo pela ajuda anterior a Kiev, o que justifica o esforço da Administração norte-americana para garantir um acordo sobre os abundantes depósitos de minerais ucranianos. “Presumo que vão honrar o acordo. Ainda não vimos os frutos desse acordo. Suspeito que os veremos”, disse Trump após uma reunião de gabinete.
“Acordo estratégico”
Ainda segundo a Reuters, o documento em causa concede aos EUA acesso preferencial em novos acordos de recursos naturais da Ucrânia, mas não entrega automaticamente a Washington uma parte da riqueza mineral da Ucrânia ou de qualquer infraestrutura de gás. “De facto, é um acordo estratégico, é um acordo internacional verdadeiramente igualitário e bom sobre investimentos conjuntos no desenvolvimento e recuperação da Ucrânia”, referiu o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal. O mesmo acordo não especifica, contudo, quaisquer garantias de segurança dos Estados Unidos à Ucrânia. Sendo certo que Kiev espera que a assinatura de um acordo promovido pela Administração Trump se traduza no reforço do apoio militar à Ucrânia.
A mesma versão do documento estabelece a criação de um fundo conjunto EUA-Ucrânia para a reconstrução do país, que receberá 50% dos lucros provenientes do Estado ucraniano a partir de novas licenças de recursos naturais na Ucrânia, não especificando como serão gastas as receitas do fundo.