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Estudo de dois anos realizado em Gaia identificou nove biomarcadores da dor

Estudo de dois anos realizado em Gaia identificou nove biomarcadores da dor Arquivo

Um estudo feito entre setembro de 2020 e setembro de 2022, em Vila Nova de Gaia, conseguiu, através da colheita de sangue a doentes com demência, identificar nove biomarcadores da dor.

"Os resultados alcançados permitem uma abordagem individualizada e muito mais eficiente do que tem sido feito até aos nossos dias, em que dependemos do autorrelato do doente para podermos introduzir as terapêuticas necessárias ao controlo da dor", revelou à Lusa o investigador Hugo Ribeiro.

O estudo realizado por uma equipa de investigadores das faculdades de Medicina do Porto e de Coimbra, abrangeu 53 doentes com demência e identificou seis biomarcadores nas plaquetas e três nos monócitos, disse.

Para além de Hugo Ribeiro participaram o professor catedrático da FMUP José Paulo Andrade e seis investigadores da faculdade em Coimbra, Marília Dourado, Ana Bela Sarmento Ribeiro, Manuel Teixeira Veríssimo, Ana Cristina Gonçalves, Joana Jorge e Raquel Alves.

Na informação enviada à Lusa lê-se que "cerca de 40% da população portuguesa sofre de dor crónica, sendo que nos idosos esta proporção será de 70% a 80%, e num terço a metade dos casos a dor estará mal controlada, prejudicando a vida destes vários milhões de doentes e das suas famílias".

"São números com significado estatístico, que nos dão uma grande evidência e que conjugado com o número grande de biomarcadores aumenta a probabilidade de, no cruzamento de dados, conseguimos ter um padrão associado a diferentes tipos de dor e da própria intensidade de dor", acrescentou.

Este estudo foi realizado com doentes seguidos pela Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos do Agrupamento de Centros de Saúde de Gaia nos quais a identificação e caracterização da dor é muitas vezes difícil, prejudicando a abordagem farmacológica mais adequada, assinalou Hugo Ribeiro.

"Não existem estudos desta natureza a nível mundial. É o maior estudo jamais feito com pessoas que não podem caracterizar a sua própria dor e o único que aborda este tipo de biomarcadores periféricos", assinalou o investigador.

E prosseguiu: "há outros dois ou três estudos, publicados entretanto, que têm entre 10 e 20 doentes como amostra e que abordam dois ou três biomarcadores específicos, enquanto nós abordámos dezenas de biomarcadores relacionados com as plaquetas e com os monócitos".

A investigação feita em Gaia contou com "53 doentes finais de um grupo de 95 selecionados", disse o médico, ciente de que "caso se confirmem os biomarcadores identificados, trata-se de um enorme passo na medicina da dor e nos cuidados geriátricos e paliativos, permitindo uma abordagem farmacológica dirigida e mais eficiente.

Do estudo foram produzidos dois artigos, sendo o primeiro publicado em janeiro onde "foram identificados biomarcadores plaquetares para a identificação da presença de dor (CD36, CD49f, CD61 e CD62p), assim como para a dor moderada-severa (CD40)", lê-se na informação enviada à Lusa.

O segundo, publicado no final de junho, explica que "os monócitos foram identificados como potenciais biomarcadores periféricos da presença de dor, e algumas das suas proteínas membranares foram identificadas como potenciais biomarcadores da caracterização da dor (CD11c para dor mista; CD163 e CD206 para dor nociceptiva)", continua o documento.

O professor catedrático José Paulo Andrade, explicou que "os doentes com demência, seja Alzheimer ou semelhantes têm dor, não a conseguem nem identificar nem caracterizar e a caracterização é muito importante para a sua terapêutica".

"Este foi o primeiro passo até conseguimos fazer a caracterização da dor através das proteínas que encontrámos em componentes do sangue periférico", assinalou o docente da FMUP e que também participou no estudo.

Redação