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Portugal investe abaixo da média europeia há 18 anos

Atrair talentos das tecnologias de informação deve ser aposta Foto: André Rolo

Associação que junta os principais empresários de Portugal faz um diagnóstico negativo do investimento público e privado. Receita para o crescimento passa por investir mais e baixar impostos sobre o trabalho.

A falta de investimento produtivo verificada nas últimas duas décadas é um dos entraves ao crescimento económico, alerta um relatório tornado público esta segunda-feira pelo “Business Roundtable Portugal” (BRP), uma associação que reúne 43 dos principais empresários de Portugal.

O relatório de abril da plataforma “comparar para crescer”, do BRP, conclui que o investimento total do país está abaixo da média da União Europeia (UE) há 18 anos, sendo que 2006 foi o último ano em que ficou acima. Em 2024, o investimento de Portugal foi de 19,6% do Produto Interno Bruto (PIB), quando a média europeia foi de 21,3% e a dos principais países concorrentes de Portugal se fixou em 20,8%. Entre estes está a Espanha, que investiu os mesmos 19,6% do PIB que Portugal.

“Se analisarmos o diferencial de investimento total nos últimos 15 anos, podemos aferir que o efeito acumulado é superior a 40% do PIB, um 'gap' de investimento extremamente significativo quando comparamos os números de Portugal com os da média da UE”, conclui o relatório.

No setor privado, o investimento português de 16,4% do PIB registado em 2024 está aquém das médias da UE (17,7%), dos países concorrentes (17%) e de Espanha (16,5%). No setor público, o cenário é semelhante: o investimento das administrações públicas foi de 3,1% do PIB, igual ao de Espanha, mas abaixo das médias da UE (3,7%) e dos países concorrentes (3,8%).

No relatório, os líderes das empresas assinalam que “é urgente realizar mais investimento produtivo em Portugal, privado e público, para acelerar o crescimento económico do país, para aumentar a produtividade e a inovação”.

Analisando o valor dos ativos fixos da economia portuguesa utilizados nos processos produtivos - stock de capital em termos reais - observa-se que este cresceu apenas 2,3% desde 2008, o que significa que “está praticamente estagnado desde a crise financeira internacional”, conclui o relatório, que acrescenta que “o investimento realizado tem sido insuficiente para colmatar a erosão desse capital”.

Uma parte do novo investimento pode ser canalizado para capital de risco, exemplificam, dado que Portugal está “muito aquém” dos países concorrentes nesta área. Outra prioridade é a redução do “garrote fiscal” sobre o trabalho que a compromete “a capacidade de o país reter e atrair talento qualificado”.

De modo a atrair talento e em particular para as áreas das Tecnologias de Informação e de Comunicação, o relatório sugere que se elimine o teto máximo que existe para o IRS Jovem, cujo desconto é limitado a rendimentos de 28 737,5 euros por ano: “Esta configuração faz do IRS Jovem uma oportunidade semi-perdida, num momento em que a concorrência internacional por talento qualificado se intensifica”.

Quem integra o BRP

Entre os associados do BRP estão algumas das principais empresas do país da banca, distribuição, tecnologias, construção, energia, saúde, tintas, cafés e seguros, por exemplo.

Países concorrentes

O grupo de países concorrentes utilizado no relatório integra Espanha, Eslovénia, Estónia, Grécia, Hungria, Itália, Polónia e República Checa. Foram selecionados por fazerem parte da UE e que, no ano 2000, apresentavam um PIB per capita nominal próximo do de Portugal.

Medina e Pires de Lima

O relatório “Comparar para Crescer” do BRP é apresentado amanhã, em Lisboa, numa sessão que contará com um debate entre António Pires de Lima, ex-ministro da Economia, e Fernando Medina, ex-ministro das Finanças.

Delfim Machado