Cultura

Radouan Mriziga e a herança norte-africana

"Libya" de Radouan Mriziga Direitos Reservados

Radouan Mriziga, renomado coreógrafo radicado na Bélgica, apresentou "Libya" na Casa da Arquitetura, no âmbito do Festival DDD.

Ao longo da sua carreira, Mriziga tem procurado expressar a sua identidade cultural norte-africana enraizada na sua infância. A sua ligação com as danças tradicionais líbias, como a dabke, é evidente nas coreografias, onde infunde movimentos ancestrais com uma estética contemporânea. Nas suas obras, ele aborda temas universais, como identidade, migração e pertença, utilizando a dança como uma ferramenta poderosa de comunicação.

As danças da Líbia, assim como sua cultura, são ricas em diversidade, refletindo a história e as tradições do país. Desde os movimentos enérgicos da dabke, que celebram a comunidade e a solidariedade, até as danças folclóricas como as danças kaf com multiplicidade de sequências percussivas que narram histórias ancestrais, a dança líbia é uma expressão vibrante da identidade nacional. Mriziga canaliza essa riqueza cultural nas performances, trazendo à tona questões contemporâneas enquanto homenageia suas raízes.

Mriziga não apenas se baseia na tradição, mas também desafia as convenções, incorporando elementos de dança contemporânea e experimental. As suas coreografias frequentemente exploram o espaço, com um desenho de estrela, onde não seria difícil de imaginar o Homem Vitruviano de da Vinci e o tempo onde numa primeira cantilena, nos fala sobre os ciclos da lua e do Sol e das contagens dos meses e dos dias, convidando o público a questionar e refletir.

O coreógrafo conhecido pelas suas abordagens colaborativas, trabalha com artistas de diversas disciplinas, o que é facilmente perceptível pela clivagem da qualidade de movimento e de vozes que existem em cena, mas cria interessantes experiências sensoriais imersivas .

No entanto, o trabalho de Mriziga não está isento de desafios. Como um artista norte africano que vive e trabalha na diáspora, ele enfrenta questões de identidade e pertença, bem como as complexidades de representar uma cultura muitas vezes mal compreendida pelo mundo exterior. No entanto, é essa mesma complexidade que alimenta sua criatividade e o impulsiona a continuar desafiando fronteiras e estereótipos. Mas, muitas vezes quando dilata o pormenor, e lhe retira a música, o efeito lupa acaba por se diluir, deixando o ritmo da obra cair, criando momentos de monotonia, mais prazerosos para quem os executa do que para quem os vê.

Num mundo cada vez mais globalizado, o trabalho de Radouan Mriziga ressoa como um lembrete da importância de honrar e preservar as tradições culturais, ao mesmo tempo em que se abre a novas perspectivas e influências. A dedicação à sua herança e sua paixão pela dança inspiram aqueles que aspiram a usar a arte como uma ferramenta para a mudança e a conexão.

Catarina Ferreira