Cultura

Festival DDD: a dualidade de "Onyx" no gatilho de Piny

Piny estreia "Onyx" Rui Oliveira/Global Imagens

Coreógrafa Piny estreia esta quarta-feira a sua nova criação: o diptíco "Onyx", no Palácio do Bolhão, no Porto.

Onyx é uma variedade de quartzo conhecida pelas faixas pretas e brancas contrastantes. É valorizado como pedra ornamental e tem sido usado em joalharia, esculturas e objetos de decoração. Além da beleza estética, o onyx tem sido associado a propriedades metafísicas, como proteção, equilíbrio emocional e força interior. Culturalmente, é usada em rituais e amuletos ao longo da história, "tanto como uma pedra que retém as más energias em certas culturas, ou como uma peça que as afasta", detalha a coreógrafa Piny sobre o nome que escolheu.

O gatilho de criação desta peça foi bastante diferente dos anteriores. Tinha uma vontade menos concreta , uma intervenção num espaço híbrido entre o onírico e a resistência, e uma forma dentro desse lugar. Um espaço performativo  enorme, por isso decidi fazer um diptíco, uma instalação para habitar o espaço, um local para habitar com muitas perguntas, especialmente sobre o que é o conforto e o que é o confronto?

Para esta criação Piny pretendia fazer uma peça menos bruta, mas, como explica, saiu-lhe um pouco fora do controle e passou a ser uma peça "muito dura e muito bruta. Não sei se as pessoas vão perceber é um campo muito denso, muito carregado, de lauta e de ujm erotismo agressivo", elucida. Aqui as memórias das mães de Piny e de André, os dois intérpretes estão muito presentes. São duas mulheres de 60 anos que falam sobre a perda, deslocação e a herança. "Nós somos as crias adultas de duas mulheres afrodescendentes e dos sonhos que estas mulheres tiveram", conta Piny.

E justifica esta busca com o seu mapa astral "Quem lê o meu mapa astral vê que a ascentralidade é algo muito marcado, como se houvesse uma circularidade do tempo. A minha vida e a minha vinda aqui tenho a sensação karmicamente e geneticamente que teria de falar sobre a ancestralidade". Mas, sem dispensar os resultados de uma socialização que será a "chave para o futuro".

Trabalhando maioritariamente com elencos femininos desta feita traz um homem. "Há muito tempo que não trabalhava com um homem, mas ao mesmo tempo não deixa de ser uma relação queer, de amor e de irmãos que parece erótica mas não é. Transcende a questão de género, fala da herança portuguesa e africana. Uma uotpia e uma distopia a que podemos chamar de um tempo sem tempo", afirma. 

Sobre o resultado final Piny explica, entre risos, "eu procurava a simplicidade, mas acabo sempre no excesso. O André ainda está numa zona da vida em que tem de gritar, enquanto eu já estou no silêncio, e essa diferença teve em mim um poder curativo". Resultados a conferir esta quarta e quinta-feira no Palácio do Bolhão.

Catarina Ferreira