Cultura

Rock Rendez Vous: o grito libertário que ainda se faz ouvir

Club de rock lisboeta Rock Rendez Vous foi palco durante uma década de atuações inesquecíveis, como esta da banda Mão Morta, em 1987. FOTO: DR

A curta mas marcante memória da icónica sala de espetáculos lisboeta está finalmente contada no livro “Rock Rendez Vous: uma história em imagens".

Não é exagero algum afirmar-se que, em matéria de rock  pátrio, a desejada revolução chegou apenas seis anos depois do 25 de Abril. Dois acontecimentos soltos, mas intensamente relacionados entre si, alimentam a crença: o lançamento de “Ar de rock”, disco com que Rui Veloso agitou a água estanque da música portuguesa, e a abertura do Rock Rendez Vous (RRV).

Se a importância do disco de estreia do músico portuense tem sido justamente destacada, sobre a sala de espetáculos lisboeta não havia, até à data, registo documental de monta que atestasse a influência.

É essa lacuna que  “Rock Rendez Vous: uma história em imagens” vem preencher. A objetiva de sete fotógrafos (Rui Vasco, Peter Machado, Pedro Lopes, José Faísca, Fred Somsen, Céu Guarda e Álvaro Rosendo) é exemplar no modo como capta a crueza e a instantaneidade em que assentou este fenómeno artístico, mas também social, que foi o RRV.

Durante uma década, o número 175 da Rua da Beneficência foi sinónimo de rebeldia, mas sobretudo criatividade e engenho. À imagem dos míticos Marquee Club (Londres), do Hacienda (Manchester) ou do CBGB (Nova Iorque), também Lisboa teve o seu laboratório musical de inventividade, muito antes do advento dos ‘clusters’, nómadas digitais e outros supostos empreendedores.

Percorrer a quase infindável galeria de imagens que compõe esta edição é aceder, em estado bruto, à essência da música portuguesa nessa década de descobertas e deslumbramentos. Lá encontramos António Variações, GNR, Mão Morta, Xutos, Rádio Macau, Mler Ife Dada, Heróis do Mar, Pop Dell’Arte ou a Go Graal Blues Band, a par de outros cuja memória não resistiu à passagem do tempos, como Ocaso Épico, Portugueses Suaves ou  Amen Sacristi.

Muitos destes nomes foram revelados no mítico concurso de bandas promovido pelo RRV, sem o qual a história do rock indígena seria por certo diferente.

Deste impressionante acervo  fica a certeza de que a própria atmosfera muito particular daquela sala de espetáculos impelia a uma entrega dos músicos que não raro resultava num êxtase coletivo ainda hoje lembrado por muitos.

Sérgio Almeida