Alentejano de 59 anos forneceu cães para o filme “Restos do vento” e teve direito ao seu tempo de fama nos Globos de Ouro.
Foi um momento que confundiu toda a gente: Albano Jerónimo estava em palco, já com o Globo de Ouro de Melhor Ator na mão, pelo seu papel no filme “Restos do vento”, e agradeceu de forma especialmente carinhosa “ao Ezequiel, que me deu um novo alfabeto para comunicar com a família canina”, sublinhando que “o Ezequiel ensinou-me a lidar e a viver com os cães”.
Mas, afinal quem é o Ezequiel e por que é que ficou famoso? Ora bem, trata-se de um alentejano, nascido em Ponte de Sor há 59 anos, que fundou o Clube Cinófilo do Alentejo, e que é conhecido como “o Sousa dos cães”.
Antigo mecânico de armamento de helicópteros Aloutte III na BA11, reformado desde 2012, Ezequiel Sousa dedica cada minuto da vida aos “amigos de quatro patas”, e anda sempre na companhia da inseparável cadela Tixa, que também entrou no filme como se fosse “professora” da matilha.
“Ele é um ator do outro mundo”
No seu agradecimento, o ator Albano Jerónimo falou de “um turbilhão de emoções”, onde não faltou “a lágrima ao canto do olho” e o telefonema de uma das filhas a chorar de felicidade pelo reconhecimento ao trabalho do pai.
Tal como nos filmes, o “Sousa dos cães” rebobina a fita do tempo e conta como tudo começou. “Em 2021, ainda em pandemia, a produtora do filme procurava alguém para trabalhar com cães. Através do WhatsApp, o [realizador] Tiago Guedes, irmão do Rodrigo Guedes de Carvalho, da SIC, fez-me o convite para ser um duplo professor: do Albano e de uma matilha de 12 cães. Depois de muito pensar, aceitei”, diz Ezequiel Sousa, recordando as suas anteriores participações nos filmes “Raiva”, de Sérgio Tréfaut, e “Body rice”, de Hugo Vieira da Silva, ambos filmados no Alentejo.
O “Sousa dos cães” e o ator foram à herdade de Gisela Cañamero, em Vidigueira, que tinha 35 cães que ali viviam em liberdade. “Eram cães abandonados, maltratados e ela resgatou-os”, recorda.
O filme “Restos do vento” conta a história de um homem mau, cujos únicos amigos são os cães. “O Albano encaixou-se muito bem, parecia que já vivia com animais há muitos anos”, diz Ezequiel Sousa, que o considera “um ator do outro mundo”.
E revela: “Ele criou com os animais uma harmonia muito bonita, tratou-os com muita humanidade e gostava sobretudo da cadela Molly, estrela do filme”, diz.
As filmagens de “Restos do vento” decorreram durante dois meses na Serra da Malcata, tendo como cenário a aldeia de Meimão, em Penamacor, tendo o filme conquistado este ano quatro Prémios Sophia da Academia de Cinema Português.