A subida do preço dos combustíveis é, nesta altura, uma das maiores ameaças à solvência das famílias e das empresas. Entre 13 de maio (dia em que o preço médio atingiu o ponto mais baixo do ano) e 26 de setembro (terça-feira passada), cada litro de gasóleo simples ficou 39 cêntimos mais caro (mais 28%) e cada litro de gasolina simples subiu 25 cêntimos (mais 16%). Isto significa que, de cada vez que se enche um depósito de 50 litros, se pagam agora mais 13 euros (se for com gasolina) ou 20 euros (gasóleo) do que em maio passado.
Apesar dos aumentos sucessivos, o Governo passou o verão, não só à sombra da bananeira, como a retomar o nível habitual de impostos (só a taxa de carbono quase triplicou no gasóleo, de cinco para 14 cêntimos por litro). Até que, chegados ao final de setembro, oferece um “generoso” presente: redução da carga fiscal, ou seja, menos dois cêntimos no gasóleo e um na gasolina. Como parece pouco, o Ministério das Finanças apresentou mais contas: o conjunto de “descontos” em vigor nos vários impostos representa menos 25 cêntimos por litro no gasóleo e menos 26 na gasolina.
Apresente-se então outra conta. Encher um depósito de 50 litros de gasóleo, uma vez por semana, durante um ano inteiro, teria um custo de 3624 euros a preços de maio, e de 4167 euros na gasolina. A preços de setembro, e a manter-se o cenário, serão 4643 euros por ano para alimentar um carro a gasóleo e 4830 euros a gasolina. Parece e é muito dinheiro. E parece ainda mais quando sabemos que metade é imposto que reverte para o Estado.
Ter um automóvel não é sinal de riqueza. Para muitos cidadãos, incluindo os que foram e são empurrados para zonas cada vez mais periféricas das cidades, obrigados a percorrer distâncias cada vez mais longas, sem transportes públicos capazes, o automóvel é, quase sempre, a única opção viável para levar os filhos à escola ou para ir trabalhar. O automóvel não é um luxo, é uma ferramenta essencial. Cobrar 50% de imposto sobre um bem essencial não promove a justiça ambiental, tem outro nome: saque fiscal.