Justiça

Ministério Público pede prisão efetiva para adeptos do Benfica acusados de violação

Foto: Gonçalo Delgado / Arquivo Global Imagens

O Ministério Público (MP) pediu, esta sexta-feira, prisão efetiva para os adeptos do Benfica acusados de violar um jovem de 16 anos depois de um jogo.

"Isto não foi um desvario de juventude pelos arguidos, a maior parte sem antecedentes criminais e inseridos na sociedade. Foi o exercício de poder de alguns indivíduos que, cobardemente, agem em grupo, com número disparatado de pessoas, e abordam outros para lhes dar uma lição por razões que não se alcançam", classificou a procuradora do MP.

O Tribunal de Lisboa está a julgar 13 elementos dos Casuals, adeptos violentos afetos à claque No Name Boys do Benfica, dez dos quais por violação de um rapaz de 16 anos, adepto das "águias", por publicar fotos da claque nas redes sociais e por ter amigos sportinguistas. Para oito deles - os que tiveram maior participação no crime e estão em prisão preventiva - é pedida prisão efetiva. 

O crime de violação ocorreu em fevereiro de 2022 após um jogo de futsal entre o Benfica e Sporting, na Luz. Os arguidos também respondem por outros crimes de roubo, agressões e detenção de arma proibida.

Para o MP, foi feita prova da violação pelas imagens de vídeovigilância, que captam os momentos em que o grupo leva a vítima para uma zona descampada, fora do estádio, e onde a agridem, despem e violam com um pau. O depoimento do ofendido, refere, também foi "claro e conciso sobre o que aconteceu".

"Isto não foi do momento, foi algo pensado, foram selecionadas vítimas. Há conversas de grupo sobre investigar, perseguir, arrancar dentes, despi-lo em plena rua", alegou o Ministério Público, acrescentando que o motivo foi "absolutamente fútil, leviano, incompreensível, não sobre claques, futebol, amor ao clube". "O que fizeram não atinge apenas os ofendidos mas também toda a sociedade", sublinha.

O MP considera que devem ser aplicadas penas superiores a cinco anos aos que tiveram maior participação no crime de violação e ponderou a hipótese de penas suspensas para outros, aqueles com menor participação e que não respondem pela violação, mas por roubos e agressões.

Os 13 arguidos foram detidos em janeiro de 2023 numa mega operação da Esquadra de Investigação Criminal da PSP de Lisboa contra a violência no futebol, incindindo principalmente junto dos Casuals, frequentemente associados a ideais de extrema-direita.

Advogados pedem absolvição

Os advogados dos arguidos pediram a sua absolvição, pondo em causa a investigação da PSP, principalmente no que diz respeito aos reconhecimentos feitos após as detenções. Alegam que foram apresentados a uma das vítimas de roubo ficheiros com fotografias e nomes dos arguidos. O ofendido veio mais tarde veio dizer que as imagens não tinham nomes, mas os advogados acreditam que o fez por indicação da PSP, com quem admitiu, durante o julgamento, ter mantido contactos.

Bruno Mota, advogado de dois arguidos, considerou que, “apesar de ninguém pôr em causa o que aconteceu, não foi possível provar quem fez o quê nem sequer que estes arguidos tenham feito algo”. “A própria vítima de violação falou em 30 suspeitos que o levaram para o descampado onde o crime foi cometido, mas estão apenas 13 em julgamento. Não há provas sobre quem fez o quê nem sequer que tenham sido estes arguidos a fazer algo”, insistiu o advogado.

Rogério Matos