O Coliseu Porto Ageas encomendou à Ópera na Academia e na Cidade (OAC), a produção “Carmen”, de Georges Bizet (1838 – 1875), para assinalar a rentrée cultural, que acontece esta sexta-feira, às 21 horas, na sala principal.
A obra selecionada pelo Coliseu e José Ferreira Lobo, diretor artístico e musical da nova produção, na sua estreia em 1875, gerou controvérsia pela representação anárquica da protagonista. Uma mulher cigana, bela e sedutora, que utilizava os seus talentos para manipular vários homens.
Contudo, o público poderá esperar uma interpretação mais moderna, pois, e segundo o encenador italiano, Alfonso De Filippis, “já houve tantos estudos diferentes desta ópera, existem tantas opiniões sobre esta mulher, que o que é realmente amoroso sobre esta produção é a sua simplicidade”.
Filippis revelou ao "Jornal de Notícias" que mesmo esta não sendo uma nova interpretação de Carmen, especialmente através da cenografia, o público sentirá mais a face fria de Carmen, da sua vida árdua e de solidão.
Para a época conservadora, o normal seria a mulher retratar personagens submissas, de indefesas donzelas. O músico e compositor francês desafiou o estereotipo, contando a história de uma mulher com personalidade forte, libertária e sexualizada. Foi exatamente esta abordagem que imortalizou Carmen. Bizet, faleceu três meses depois da estreia, alheio ao sucesso internacional da sua ópera em quatro atos.
José Ferreira Lobo assegurou que a prioridade destas produções é procurar “dentro daquilo que são as nossas capacidades, criar todo o contexto emocional e mostrar o nosso empenho ao público, que é o nosso principal destinatário”.
A verdade é que, mesmo que o volume de óperas apresentadas anualmente seja baixo, esta rentrée cultural faz jus à tradição operática no Porto, não fosse comprovado pela criação de produções “há uma vintena no Coliseu”. O idealizador da OAC entende que “a chamada alta cultura desceu a tal ponto, que agora só pode subir. Exatamente por isso vemos um aumento na procura de alternativas”.
O mesmo se nota nos trinta anos de um projeto em constante construção, inesgotável, que leva a ópera a todos os cantos de Portugal, visando descentralizar a cultura, não restringindo o acesso a esta forma de arte apenas aos centros urbanos.
Gisela Sachse, mezzo-soprano é a protagonista que encarna Carmen numa refrescante visão de Filippis, onde o público poderá ver uma constante evolução da personagem, pelo decorrer da ópera.
“Talvez ao início podem até não gostar, mas depois com o desenrolar da história, vão identificar-se com ela.”
A mesma admitiu que “poder agora interpretar esta personagem emblemática é um privilégio, é um sonho” e que se sente “mais enriquecida depois de interpretar esta personagem, fiel a ela própria, que nunca se vendeu a algo que ela não era”.
Os bilhetes variam entre os 40 euros (cadeira de orquestra) e 15 euros (galeria), tendo aproximadamente uma duração de 2.45 horas.
Com as portas a abrir às 20 horas, o Coliseu vai encher-se de canto, música, bailado, teatro, sorrisos e lágrimas. Para aqueles da área a ópera é uma forma de terapia, de meditação e agora convidam o público portuense a encontrar essa mesma oportunidade de reflexão.