Praça da Liberdade

"Manobras na Casa Branca"

Pensilvânia, gente do MAGA a aplaudir efusivamente Trump. Baboseiras, mentiras e o povo exaltado.

No meio disto, o som metálico de um disparo: Trump baixa-se e ao levantar-se cria uma imagem.

Vejo Hollywood: o céu incrivelmente azul, lindo, sem nuvens, onde sobressai, pelo contraste, uma pessoa com sangue a escorrer pela face, punho direito erguido e fechado no ar, lançando um grito de revolta. A cara está vincada, olhar desafiante, vivo, cheio de adrenalina. Abaixo dele, seguranças com bom aspeto: corpos bem-feitos, brancos, fatos de bom corte, típicos óculos de sol e, mais abaixo, uma mulher que se curva. O corpo de segurança está lá, mas o vulto que se ergue é superior a isso.

No topo da imagem, a bandeira dos Estados Unidos e, acima dela, Deus, que veio salvar o candidato de um tiro certeiro.

O cenário é perfeito!

E a música?! Certamente há uma música pensada para nos tocar o coração, como aqueles discursos que soam diferentes quando têm uma banda sonora.

Já viu o “Manobras na Casa Branca”, com De Niro e Hoffmann? Se viu, sabe do que estou a falar. Se não, aconselho.

Ironia das ironias é que estamos a falar de Trump, da América e do uso de armas.

Trump é dos políticos do mais baixo nível que há - foi capaz de instrumentalizar os seus fiéis para atacarem o Capitólio, porque não aceitou a derrota de 2020. E já disse que vai haver sangue se perder as próximas eleições. Isto é Trump: faz tudo para ganhar, não olha a meios para atingir os seus fins, ameaça com uma guerra civil.

Um dos seus maiores apoios vem da NRA e dos seus mais de cinco milhões de sócios. Defendem, por exemplo, o uso de armas pessoais para autodefesa, numa ótica de “um polícia em cada casa” e “primeiro dispara-se e depois pergunta-se”.

Acreditando na autenticidade do ataque, relembro que estamos a falar de um demagogo, mentiroso, semeador de discórdias e que defende a venda livre de armamento. Ele foi vítima das suas próprias palavras.

Quem acreditar que foi Deus e as orações dos trumpistas do Mundo que salvaram o antigo presidente, também pode pensar que terá sido o mesmo Deus a ironizar com tudo isto.

O que é certo é que, agora, dificilmente a vitória lhe escapará.

João Rebelo Martins