Cultura

De olho em Cabo Verde, com um pé no funaná, Fogo Fogo conquistam Portugal

Fogo Fogo: Edu Mundo, Danilo Lopes, David Pessoa, Francisco Rebelo e João Gomes. Foto: Francisco Gomes Queragura

Banda nascida em Lisboa celebra dez anos com um novo álbum, “Nha Rikeza”, que apresenta ao vivo esta sexta-feira na Casa da Música, no Porto. Baterista Edu Mundo diz ao JN esperar uma "receção calorosa".

Foi a jogar (quase) em casa que os Fogo Fogo arrancaram com mais um golo certeiro na sua já longa carreira: estrearam o segundo e novo álbum de originais, “Nha Rikeza”, no B.leza, em Lisboa, a 21 de março. Não podia ter corrido melhor. A análise é feita pelo próprio grupo, neste caso por Edu Mundo, o baterista.

Em conversa com o JN, confidencia que a expectativa da reação do público ao novo trabalho – apenas publicado no dia seguinte – era grande, mas o esperado foi ultrapassado. “Foi uma receção calorosa”.

Esta sexta-feira, a banda ruma ao Norte e apresenta agora o disco à cidade do Porto, estreando-se na Casa da Música.

“Como sou do Porto tenho expectativas altas, espero que a minha cidade dê as boas-vindas aos meus colegas com a recetividade e calor que lhe são intrínsecos”, confessa.

Mas ainda que a apresentação tenha sido pertinho de casa – uma vez que a banda nasceu da residência na Casa Independente, em Lisboa – a composição de “Nha Riqueza” foi bem mais longínqua. Edu Mundo recorda o frio, a geada e a neve vistas e sentidas durante duas semanas.

O segundo álbum dos Fogo Fogo foi criado bem longe do fogo, numa residência artística no alto de uma serra, isolada dos lugares de conforto mais comuns à capital. “Foi essencial para nos conseguirmos concentrar e partilhar uma data de ideias que cada um levava”, diz.

E 15 dias foram suficientes para criar e compor as 13 canções que fazem parte do álbum. “É o reflexo da química que temos”, atira Edu Mundo.

"Somos bem recebidos em qualquer lugar"

“Nha Rikeza” é o segundo álbum de originais, sucessor de “Fladu Fla”. Como de costume, além do baterista Edu Mundo, conta com Danilo Lopes na voz, guitarra, cavaquinho e mandolim; David Pessoa na voz, guitarra e ferrinho; Francisco Rebelo no baixo; e João Gomes nos teclados. E ainda que o disco anterior tenha contado com uma série de convidados, este foi mais contido, mas certeiro, nos extras: Iúri Oliveira é o percussionista convidado.

Há ainda uma adição pelo meio: “Nhô Buli” é a única faixa em colaboração e a mesma não podia ser mais honrosa, sendo com as próprias “musas” do grupo: os Ferro Gaita. “Como é que grava um disco, como é que se posiciona em frente ao microfone, como é que compõe, estas e tantas outras questões são normais quando pensamos nos nossos ídolos, queremos conhecê-los, saber como se comportam”.

No caso dos Fogo Fogo, a curiosidade, aplicada à sua inspiração no grupo de funaná, foi saciada com a gravação do novo trabalho. “Vê-los a gravar, não especificamente no nosso disco, mas apenas por vê-los, respondeu a todas essas questões, trouxe imenso prazer e um orgulho enorme ter o reconhecimento de pessoas que são uma referência para nós”, revela Edu Mundo.

Depois de dois anos repletos de estrada – com uma média de mais de dois concertos por mês em 2022 e 2023 – já se podem fazer as contas: Edu Mundo acredita que estão no caminho de abertura cultural do país que, na verdade, é tão ingenuamente próximo do que fazem.

“Lisboa tem uma confluência de pessoas, infraestruturas e iniciativas relativas a este tipo de música, mas temos conseguido perceber que somos bem recebidos em qualquer lugar, sobretudo se levarmos música e dança, que é algo de que o português gosta”, revela. Essa fórmula: o típico bailarico tão querido ao Portugal de Norte a Sul, une as gentes. “Claro que há sítios onde a nossa música pode chegar mais tarde, mas acreditamos que temos caminho para lá chegar”, prevê Edu Mundo.

Cabo Verde é a terra ansiada

Sobre esse caminho, o baterista prefere não fazer planos. Até porque a essência dos Fogo Fogo tem sido exatamente essa, a de ir vivendo.

“Começamos por tocar músicas de outros, uma vez por mês, num espaço pequeno, nunca imaginamos chegar aqui - esse nem sequer era o objetivo. E, olhando para trás, esta ideia de irmos andado, este gerúndio que nos tem pautado, ajuda a baixar as expectativas e a surpreender, até a nós mesmos, passados já dez anos”.

Na lista de afazeres continua o primeiro e único desejo: atuar em Cabo Verde. “Até há pouco tempo teríamos de apresentar um concerto misto, entre versões e originais. Hoje já podemos escolher e, à medida que o tempo avança e não paramos por essa terra ansiada, vamos amealhando mais canções e mais vontade de lá ir”. Talvez seja este ano. Sem planos, diz o artista.

Para já, os Fogo Fogo têm encontro marcado com o público esta sexta-feira à noite, 12 de Abril, na Sala 2 da Casa da Música, no Porto.

Sara Sofia Gonçalves