Cultura

Tita Maravilha e os corpos dissidentes no Festival Precárias

Tita Maravilha: identidade de género e a intersecionalidade são temáticas centrais no percurso da artista. FOTO: DR

Certame toma conta de vários espaços do Teatro Rivoli, no Porto, no dia 6 de abril, expandindo-se depois por cinco cidades.

Tita Maravilha foi um prodígio do futebol feminino brasileiro, uma figura marcante das década de 1960 e 1970. Uma estrela essencial na forma como as mulheres foram incluídas neste desporto, que até então era reservado para homens. 

Este é também o cognome da performer que quer mudar não o mundo do futebol, mas o das artes e que organiza o Festival Precárias  II que, passado o torpor das festas pascais, se instala em vários espaços do Teatro Rivoli, no Porto, no próximo sábado, dia 6 de abril. 

No Rivoli, o festival divide-se em sete momentos. O primeiro decorre com a avó das “drag queens” nacionais, Nany Petrova, com uma carreira de mais de 50 anos.

Segue-se “Yunne Isabella, a mais tonta ou a mais bella?”, com cinco minutos de amor. Zaya, uma artista trans alentejana, relaciona a sua denominação de origem com as histórias que conta.

Depois chega “Catarse, ou exercício para o fim do mundo”, da própria Tita Maravilha, inspirada em Grotowski.  

A última das performances, “Migrantas”, narra como dois corpos negros em diáspora constante são capazes de celebrar a explosão dos seus próprios estereótipos.

Para terminar o festival, uma festa “Maravilha DJ Set para botar a cara no sol”, a partir das 2 da manhã, no Café Teatro Rivoli.

A identidade de género e a intersecionalidade são temáticas centrais no percurso de Tita Maravilha, vencedora da Bolsa Amélia Rey Colaço de 2022, com o projeto intitulado “Es três irms”. A sua noção de corpo político, e a exploração das experiências positivas e negativas de ser um corpo dissidente, pontuam a sua prática artística.

“Precárias” é um projeto de criação comunitária e intercultural, focalizado em corpos e identidades específicas, como pessoas trans, queer, não-binárias, mulheres e pessoas racializadas. 

O festival surge, como explica Maravilha na sinopse, “um ato de resistência, mesmo em contextos desafiadores”.

A primeira edição ocorreu em 2022, como parte do projeto Artista no Bairro. A segunda edição  expande-se  agora para  cinco cidades: Lisboa, Porto, Montemor-o-Novo, Viseu e Paris. 

Catarina Ferreira