O entretenimento é para todos, confunde-se realidade com ficção. É o tempo das historietas do tempo infantil, novo atear de fogos para marcar uma “pole-position” que não aquece nem arrefece e nem sequer resiste à temperatura. O regresso da política após a pausa de Verão é a prova evidente de que, sem debate parlamentar, os media são o terreno eleito pelos aparelhos partidários para novas baterias de demagogia. De frases feitas e de boas intenções está o Verão cheio.
O PSD não aparece sem aviso. A Festa do Pontal, marca de hábito da rentrée social-democrata, prescindiu de D. Sebastião e apontou ao que está para vir. Se o ano passado o eleitorado foi convidado para uma festa-surpresa com a presença de Pedro Passos Coelho, em 2023 presenciamos mais um pré-lançamento da candidatura presidencial de Marques Mendes, não vá o diabo realmente aparecer de surpresa. A dose de acolhimento eleitoral do ex-primeiro-ministro serve-se com moderação. Passos Coelho continua a ser uma ameaça interna para Luís Montenegro, mas também um obstáculo difícil de ultrapassar para qualquer candidato à sucessão no PSD. Em qualquer dos casos, um fantasma que impede uma solução.
A Jornada Mundial da Juventude retirou Carlos Moedas do Purgatório, entronizando-o directamente para um altar de eleição. Sem tempo para obra feita em Lisboa, o êxito partilhado da recepção ao Papa Francisco está a ser transformado por muitos numa história idílica, demonstração de competência e foco. A presença no Pontal não é coroação, mas indica que Luís Montenegro (à semelhança de António Costa) não hesita em ter os seus putativos sucessores por perto. O perigo é sempre maior à distância.
Todo o discurso-panfleto de demagogia de Montenegro sobre a baixa de impostos não tem adesão à história recente do PSD no poder. Mas tem a vantagem de falar para a classe média e de colocar os sociais-democratas novamente em jogo, pisando as casas que até agora estavam a ser ocupadas pela Iniciativa Liberal. Num momento de crise de afirmação de líderes, a disputa pelo centro da retórica na Direita é o primeiro acto táctico que permitirá perceber o alinhamento para as eleições europeias que se avizinham. Montenegro depende delas e a redução dos impostos colhe votos à sua ilharga. O mote é estival mas certeiro, sobretudo quando os “casos e casinhos” do Governo não incendiaram o Verão.
*O autor escreve segundo a antiga ortografia