Opinião

Não chamem a Polícia

“Sabe, isto é tudo uma treta”, atirou-me o agente Silva, paciente e simpático, quando escutava a indignação de quem estava impedido há várias horas de sair do condomínio onde reside (já lá vamos).

Antes de conversar com o PSP de piquete naquela noite de sábado, muito perto das 24 horas, tinha dialogado com a subchefe da Polícia Municipal local a propósito do mesmo imbróglio. Explicou-me, em tom de lamento, que aquele corpo especializado de segurança não dispunha de um reboque. Não dispunha naquele dia, nem em dia nenhum. “Há mais de 20 anos que pedimos um”, lamentou.

À falta de um veículo que pudesse enganchar o outro que bloqueava o acesso à garagem que serve um condomínio constituído por dois edifícios, a Polícia Municipal recorreu aos seus congéneres da PSP. Ora, também o destacamento da força de polícia nacional naquele território não conseguiu resolver o problema pelo mesmo motivo. Não há reboque!

“E se algum cidadão precisar de sair do prédio para se deslocar a uma urgência de um hospital? E se algum munícipe tem um voo marcado e se vê impossibilitado de se deslocar na sua viatura para o aeroporto? E quem lhe paga o serviço de transporte privado se esta for a única alternativa? E de quem é a responsabilidade se as viaturas que ficaram estacionadas no exterior forem assaltadas?”

“Sabe, isto é tudo uma treta”, responde o agente Silva.

Naquela noite, a liberdade de circulação foi retirada a mais de duas dezenas de pessoas. Naquela noite, a segurança desses portugueses, desses contribuintes, foi colocada em causa.

Se, em 20 anos, as forças de segurança de uma cidade de média dimensão não dispõem de ferramentas para proteger e garantir os direitos mais básicos de uma população, alguém anda mesmo muito distraído. Assim, não há campanha eleitoral que os reboque para a liderança de nada, muito menos de um governo. 

Manuel Molinos