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Pedro Nuno Santos: um projeto PSD-IL “é suficientemente radical para nos preocupar”

Pedro Nuno Santos Leonardo Negrão / Global Imagens

Pedro Nuno Santos admitiu, esta segunda-feira, que o momento da sua candidatura à liderança do PS “não é ideal”, mas, com a crise política que paira no Governo na sequência da investigação do Ministério Público, "abriu-se um processo eleitoral e criaram-se condições".

“A realidade precipitou-se e a vida e a política são assim”, afirmou o antigo ministro das Infraestruturas e da Habitação e atual deputado que está na corrida à liderança do PS, em entrevista no "Jornal da Noite" da SIC. 

O candidato à sucessão de António Costa na liderança do PS recusa que tenha pensado que a demissão do primeiro-ministro abriu caminho à “sua hora” na liderança do PS.  Esta é a primeira entrevista que Pedro Nuno Santos dá enquanto candidato à liderança do PS, depois de ter oficializado a sua candidatura esta tarde, numa sala cheia na Sede Nacional do PS, em Lisboa.  

Os socialistas vão as eleições diretas para decidirem quem sucede António Costa nos dias 15 e 16 de dezembro, em simultâneo com a eleição de delegados. Já o 24.º Congresso Nacional do PS foi antecipado para 6 e 7 de janeiro. 

Quanto à investigação do Ministério Público que abalou na última semana o Governo, o deputado afirmou que foi apanhado de “surpresa”, explicando que envolve pessoas que conhece há muitos anos. Mas “rapidamente evoluiu para preocupação” sobre o impacto que o processo pode ter na confiança dos portugueses nas instituições e no PS. 

Questionado sobre a hipótese de o atual Governo manter-se com a liderança do presidente do Banco de Portugal, Mário Centeno - como sugerido por António Costa a Marcelo Rebelo de Sousa -, Pedro Nuno Santos admitiu que não se opôs a essa solução, remetendo que o veredicto seria do presidente.

“Para mim era claro que qualquer que fosse a decisão do senhor presidente da República era aquela com a qual teria de trabalhar e à qual me teria de adaptar. Portanto, não há nenhum entusiasmo particular com qualquer uma das soluções. Não me opus a ela como também não critico a decisão [do presidente da República], antes pelo contrário”, advertiu. 

Se estivesse no lugar de Galamba, ter-se-ia demitido mais cedo

Sobre o impasse na demissão de João Galamba, Pedro Nuno Santos escusou-se a comentar as “decisões individuais de cada um”, mas admitiu que se estivesse no lugar do agora o ex-ministro das Infraestruturas se teria demitido mais cedo. Galamba acabou por apresentar a demissão esta segunda-feira, depois de ter afastado esse cenário na passada sexta-feira, no Parlamento.

“As pessoas são diferentes. A minha forma de estar é diferente e, por isso, tê-lo-ia o feito de forma diferente”, disse Pedro Nuno , acrescentando que, a certa altura, é mais importante ter em conta “o impacto” que a continuação no Governo teria do que “ter a verdade do seu lado”.

Relembrando que foi esse o pensamento que levou quando passou por uma “situação complicada” depois da polémica indemnização da TAP à então secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis, que levou à sua saída do Governo, no final do ano passado. “Obviamente que a minha saída do Governo se deve a um processo que não correu bem, e que foi altamente escrutinado, do qual se tiraram consequências e aprendizagem”, afirmou o socialista, assumindo os seus “erros” e “cicatrizes” ao longo de vários anos na política, tal como o fez esta tarde na apresentação da candidatura a secretário-geral do PS. 

Perante a hipótese de, depois das eleições, surgir uma nova geringonça à esquerda, Pedro Nuno Santos afirma que essa avaliação será feita “consoante o arranjo parlamentar que sair das eleições”, sublinhado que “não faz sentido fazê-la a priori”, quando o PS quer ganhar o próximo ato eleitoral 

IL tem um projeto radicalmente liberal

Quanto ao recado que deixou esta tarde à direita no discurso da sua candidatura, o deputado socialista diz que falou da ameaça do PSD decidir fazer um acordo com o Chega para constituir Governo porque “constitui um problema para a maioria dos portugueses”, nomeadamente os que situam no centro político”. Um “risco real” dado que o Partido Social-Democrata já o fez nos Açores, recordou. Pedro Nuno Santos considerou ainda que um projeto PSD-Iniciativa Liberal “já é suficientemente radical para nos preocupar”.

"A Iniciativa Liberal tem um projeto radicalmente liberal. Eu diria que um eventual governo do PSD seria um governo mais à direita do que do Passos Coelho", afirmou.  

Mais tarde na entrevista, Pedro Nuno Santos admitiu ser “compreensível” a polémica em torno da intervenção do Estado na TAP, uma vez que significou “uma injeção avultada de dinheiro num país com dificuldades”. No entanto, sublinhou que a TAP é hoje uma empresa “com saúde financeira”, pelo que “não é um problema para o país” e não deve ser vendida “à pressa”.

Mais tarde, durante o seu último comentário político no espaço semanal na SIC Notícias, Pedro Nuno Santos reiterou que a recuperação do tempo de serviço dos professores será “obviamente” um dos temas sobre os quais o PS terá de trabalhar. Embora em resposta às questões sobre medidas num cenário com Pedro Nuno Santos como primeiro-ministro, o deputado socialista focado, por agora, nas eleições diretas do partido, sublinhou, por várias vezes, que ainda se está “muito longe de discutir um governo”.  

Recorde-se que num dos programas, Pedro Nuno Santos defendeu uma recuperação integral do tempo de serviço em que as carreiras dos professores estiveram congeladas durante o período da Troika. “A minha opinião não muda” resumiu. 

Inês Malhado