Justiça

Conselho da Magistratura alega que "carta" do MP só tinha sugestões de gestão do tribunal

André Navarro, advogado de Custódio Correia, no Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa Tiago Petinga / Lusa

O Conselho Superior da Magistratura (CSM) garantiu, esta sexta-feira, que a "exposição" remetida àquele órgão pelas procuradoras do processo da Madeira foi "uma carta" com sugestões de medidas a adotar na gestão do Tribunal Central de Instrução Criminal, onde decorreram os interrogatórios dos três arguidos.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) divulgou, ao início da tarde desta sexta-feira, uma nota em que lamenta o "longo período" entre a detenção do ex-autarca do Funchal, Pedro Calado, e de dois empresários, a 24 de janeiro de 2024, e a sua libertação pelo juiz, apenas com termo de identidade e residência, na última quarta-feira, 14 de fevereiro do mesmo ano.

"Assinala-se, porém, que a as magistradas do Ministério Público presentes nas diligências do interrogatório procuraram sensibilizar, por múltiplas vezes e pelos meios ao seu alcance, o magistrado judicial que as conduziu, para a incomum demora registada e para a necessidade de lhes imprimir maior celeridade, tendo inclusivamente dirigido, logo no dia 1 de fevereiro de 2024, exposição ao Conselho Superior da Magistratura, enquanto órgão de gestão e disciplina da magistratura judicial", lê-se no comunicado.

Questionada pelo JN, fonte oficial do CSM confirmou "a receção de uma carta remetida pelas procuradoras deste processo". "Esta carta falava de possíveis medidas gestionárias de apoio à atividade do tribunal a adotar pelo CSM", acrescenta, escusando-se a disponibilizar a missiva por não ter sido enviada "pela via hierárquica normal da PGR". "O exato conteúdo da carta deve ser solicitado às suas autoras individuais", conclui.

O JN solicitou entretanto, à assessoria de imprensa da PGR, o envio da carta, que se limitou a remeter para o comunicado emitido esta sexta-feira.

Dias até início dos interrogatórios

Pedro Calado e os empresários Avelino Farinha e Custódio Correia começaram a ser interrogados individualmente, pelo juiz Jorge Bernardes de Melo, a 31 de janeiro, depois de vários adiamentos, para que, por um lado, a defesa dos arguidos consultasse toda a prova recolhida - entregue faseadamente no tribunal e não de uma só vez -, e, por outro, o magistrado lhes comunicasse todos as suspeitas contra si.

Os depoimentos terminaram a 9 de fevereiro, tendo o juiz agendado, logo nesse dia, a comunicação das medidas de coação para 14 de fevereiro. Durante todo esse período, Pedro Calado, Avelino Farinha e Custódio Correia permaneceram presos, tendo acabado por ser libertados sem indícios, sustentou Jorge Bernardes de Melo, da prática de qualquer crime, incluindo corrupção.

O Ministério Público mantém a convicção de que as suspeitas estão sustentadas e já anunciou que vai recorrer do despacho do juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal, em Lisboa.

Inês Banha