Carrazeda de Ansiães

Entrudo em Carrazeda de Ansiães: Pai da Fartura rebentou e com ele todos os males do ano

Foto: Eduardo Pinto/JN

Personagem a quem se atribui a culpa por tudo o que de mau acontece foi julgado e condenado. Tradição encerrou Entrudo em Carrazeda de Ansiães.

O Entrudo de Carrazeda de Ansiães é um dos que fecha a porta das comemorações carnavalescas deste ano. O Pai da Fartura foi a rebentar com grande estrondo, cerca das 22.30 horas, perante centenas de pessoas, já depois de ter sido julgado e condenado junto ao pelourinho.

O Pai da Fartura é transportado numa urna que circula pelas ruas da vila de Carrazeda numa carrinha, já noite cerrada. Pretende-se que todos o vejam como um condenado, carregado de todas as culpas e mais algumas por todos os males da sociedade. Vai rodeado de carpideiras a caminho do local onde ouvirá a sentença.

Na verdade, é o ponto alto de um Entrudo tradicional que começou durante a tarde com um cortejo com mais de duas dezenas de carros alegóricos. Todos com motivos de sátira social, política e económica. Muitas vezes, a forma de os participantes mascarados manifestarem as suas críticas, ao som dos bombos e na presença dos gigantones rodopiantes dos Zíngaros de Carrazeda.

A sentença do Pai da Fartura é composta por um longo conjunto de quadras que o juiz dos Zíngaros, Hernâni Sousa, vai desfiando com os olhos postos na personagem deitada no centro da praça da Fonte das Sereias.

“Temos ali presente o réu, para ele não há clemência, decerto não vai para o céu, acabemos com a sua existência”, começa o juiz. E continua: “Desgraçado Pai da Fartura, ninguém te vai perdoar, para ti não há brandura, vais mesmo ter de rebentar”.

As quadras abordam, não raramente, problemas nacionais: “E sem nadinha saber, mesmo ali na porta do lado, notas foram aparecer, em livros bem guardados”. Mais: “Revoltaram-se os

agricultores, vieram para a estrada, utilizando os tratores e a tropa bem treinada”.

E também há critica local: “Até na água da torneira, que as pessoas vão beber, tu arranjaste maneira, de te deixares corromper”. “Falta gente para a maçã, para a vindima e para a azeitona, só não falta para a marrã, e para os rojões da abalona”.

As atividades do Entrudo de Carrazeda de Ansiães são promovidas pela Câmara Municipal em parceria com a Associação de Zíngaros.

O autarca, João Gonçalves, admite que este Entrudo “atrai cada vez mais pessoas, sobretudo quando o tempo está bom”, como foi o caso deste ano. “Este julgamento e rebentamento são uma forma popular de marcar este dia, que dá início a um período de algumas restrições”, descreve o presidente da Câmara.

Eduardo Pinto