Nova série brasileira explora relações afetivas atuais com mestria e verdade.
Uma das melhores apostas feitas pela Disney+ em língua portuguesa alterna entre a comédia romântica e o drama romântico. E depois? Estreada no mês passado, "Amor da Minha Vida" traz frescura e humanidade a um género não raras vezes aborrecido de tão superficial e carregado de clichês. Também os há, é certo, mas a brutal sinceridade das histórias que conta e as interpretações honestas e hábeis, enquadradas numa fotografia que surpreende pela positiva, sobrepõem-se a eles.
No centro da trama, criada pelo realizador brasileiro Matheus Souza, estão os amigos Bia (Bruna Marquezine) e Victor (Sérgio Malheiros), que crescem juntos, diferentes mas inseparáveis, correndo pastelarias e botecos de rua em busca do sonho perfeito - em Portugal é uma Bola de Berlim, mas no Brasil chamam-lhe sonho e o nome assenta que nem ginjas no propósito metafórico. Inspirada em "deceções reais", a série envolve-nos nas relações, quase-relações e relaçõezinhas das personagens, que amadurecem e se desenvolvem ao longo de dez episódios, numa montanha-russa de desafios, prazeres e desilusões que empurram os amigos para experiências novas e vivências marcantes. O grande trunfo de "Amor da Minha Vida" é contá-las com muita realidade: os amores não são perfeitos, a paixão não é imune à rotina, as mudanças trazem perdas e sofrimento, e os sonhos que se queriam muito às vezes são como os bolos na montra da pastelaria, lindos mas com sabor a ontem.
Bia, intensa e caótica, apaixonada pela vida, emocionalmente volátil e resistente ao amor romântico, vive para ser atriz e, mais tarde, realizadora. O melhor amigo, Victor, que conheceu numa noite de copos, o oposto de tudo. Inicialmente feliz e realizado numa relação estável que viu ruir, não sonha com voos altos; só quer tornar viável o negócio de família e ver a amiga brilhar, enquanto vive os amores que lhe aparecem no caminho. Ao longo das jornadas de cada um, surgem personagens que trazem profundidade à trama e, camada a camada, exploram-se tabus das relações e da sexualidade de forma muito natural, sempre numa perspetiva focada nos temas atuais dos jovens.
Um dos assuntos em destaque é o condicionamento da produção artística aos investidores, às redes sociais e à influência dos criadores de conteúdo seguidos por milhares de pessoas, que acabam por ganhar papéis no cinema pela popularidade. Neste ponto, não deixa de ser algo irónica a escolha da atriz para o papel de Bia, cuja vida pessoal sempre gerou muito interesse no público. Mas, fama à parte, se ainda houvesse dúvidas acerca das qualidades de Bruna enquanto artista, esta série dissipava-as a todas. A escolha de Marquezine - linda, sensual, talentosa e a dar show de bola em cada cena com interpretações carregadas de autenticidade, em parelha com o arrebatador Sérgio Malheiros - foi um super trunfo, numa série que é um ás de copas no panorama ficcional brasileiro.