Uma parte das cerca de 70 funcionárias da Temasa – Têxtil do Marco SA, localizada em Marco de Canaveses, estão reunidas à porta da empresa para manifestar a sua revolta contra o encerramento da fábrica e as condições em que todo o processo foi conduzido.
Num gesto simbólico, as trabalhadoras penduraram as suas batas de trabalho num estendal colocado junto à empresa e afixaram um cartaz com a mensagem: "39 anos de trabalho e dois de tortura e violência psicológica".
A empresa entrou com um pedido de insolvência no Tribunal de Marco de Canaveses a 17 de fevereiro, e as funcionárias aguardam agora a nomeação do gestor de insolvência. Segundo relataram, já se suspeitava há algum tempo que a gestão da empresa era ruinosa e que o objetivo seria encerrar após cinco anos de exploração, aproveitando-se de apoios e fundos comunitários.
"Não foi uma surpresa para nós. A forma como o patrão tratou os funcionários nos últimos dois ou três anos foi um claro sinal de que ele queria que saíssemos pelo nosso pé, sem os nossos direitos. Foram anos de humilhação e violência psicológica", relatou uma das trabalhadoras.
As funcionárias relatam episódios de maus-tratos, incluindo insultos, pressões para aceitarem rescisões desfavoráveis e até agressividade física. "Cheguei a ser chamada ao gabinete onde ele deu murros na parede para me intimidar. Como não aceitei sair sem os meus direitos, fui perseguida dentro da empresa", denunciou outra funcionária.
A empresa, que produzia vestuário para adultos e crianças, incluindo fardas, já vinha enfrentando dificuldades há meses. Os salários estavam a ser pagos com atrasos desde o verão, e o subsídio de Natal nem sequer chegou a ser liquidado. "Em janeiro, recebemos apenas 50% do salário. O subsídio de férias foi pago em parcelas e ainda havia montantes por saldar", afirmam.
Outro motivo de revolta das funcionárias é o facto de a empresa já ter vendido o pavilhão onde laborava a empresa (na Zona Industrial de Tuías, no Marco de Canaveses), no verão passado, tornando ainda mais incerto o pagamento das dívidas. "O que está dentro da fábrica não chega para pagar nem os fornecedores, quanto mais os nossos salários em atraso", lamentam.
As trabalhadoras exigem que as autoridades competentes investiguem o sucedido, pois acreditam que este padrão de gestão se repete. "Este patrão já fez isto com outras empresas. Compra, gere de forma ruinosa, aproveita apoios e fecha ao fim de cinco anos, deixando pessoas sem trabalho nem direitos", acusam.
Agora, aguardam a nomeação do gestor de insolvência para oficializar os despedimentos e darem entrada nos pedidos de subsídio de desemprego. Entretanto, continuam em protesto e apelam ao governo para que tome medidas para evitar situações semelhantes no futuro.
Durante esta manhã começaram a chegar à Temasa donos de máquinas que laboravam na Têxtil do Marco SA, em regime de concessão, na tentativa de levantarem os seus equipamentos. “Soube, por linhas travessas, que a empresa havia fechado. Ninguém no avisou. Pretendo levantar as minhas máquinas de molas, mas não está fácil, admitiu um responsável pedindo anonimato.
A Têxtil do Marco SA foi fundada pelo então dono da Sonae, Belmiro de Azevedo, entretanto já falecido. Muita da roupa que era vendida na MO (ex-Modalfa), do grupo Sonae era ali produzida. Durante a pandemia, a fábrica nunca fechou tendo, na ocasião, prestado um importante contributo nacional na produção de consumíveis clínicos. Há cerca de cinco anos, a empresa foi vendida a um empresário lusoalemão com residência no Porto.
Segundo as funcionárias da Temasa, o empresário estará já a tratar de abrir uma outra empresa, tendo convidado algumas das funcionárias para lá trabalhar, mas a sua localização é desconhecida para as funcionárias despedidas. "Caso contrário íamos para lá denunciar este comportamento criminoso", concluem.