Cultura

Menos catárticos mas igualmente emocionais: os Mogwai estão de volta

Mogwai: Stuart Braithwaite, Dominic Aitchison, Martin Bulloch e Barry Burns. Foto: DR

Traumas e superação inspiraram banda rock Mogwai para mais um disco perto da perfeição: “The bad fire”.

Após 30 anos, os mestres escoceses do pós-rock ainda conseguem lançar um disco perto da perfeição. Tranquilo, mas não calmo; emocional, mas não meloso; inquietante, mas não enervante. “The bad fire” é um disco apaziguador, até esperançoso, com mais equilíbrios e menos contrastes do que os Mogwai nos tinham habituado.

“The bad fire” é um eufemismo para inferno usado pelos operários de Glasgow. Foi por este “fogo mau” que a banda passou nos últimos anos após, em 2021, ter visto pela primeira vez um disco seu chegar a n.0  1 do Reino Unido. Depois desse ponto alto, vieram tempos maus e sombrios. Quase à imagem das suas músicas, pontuadas por picos inesperados e acidentados entre melodias sintetizadas e explosões catárticas de distorção.

Neste “fogo mau”, foi diagnosticada uma anemia aplástica à filha de sete anos do teclista Barry Burns. Graças a um transplante de medula, várias transfusões sanguíneas e quimioterapia, a recuperação da menina parece estar no bom caminho. Mas houve mais “fogo mau”. O agente de digressões da banda e o pai do baixista Dominic morreram – e o cão de Braithwaite teve uma perna amputada duas semanas antes das gravações.

Percebe-se assim porque o trauma e, mais ainda, a sua superação são a tónica deste disco. E, talvez por isso, seja mais contido em contrastes e catarses do que os anteriores.

A orografia de “The bad fire” é menos acidentada, mas não menos emotiva. Vários temas têm o poder de soltar formigueiros epidérmicos  e lançar descargas de serotonina pelo corpo. Destaca-se "If you find this world bad, you should see some of the others" que, ao longo de sete minutos e meio, nos amarra e arrasta para o fundo, numa pura atração pelo abismo, mas que à última hora nos eleva e faz flutuar por cima das nuvens rumo a um reconfortante amanhecer.

Tiago Rodrigues Alves