Cultura

Aquele vulto esguio que vagueava em Praga

Renáta Fucíková faz retratos biográficos da obra do autor Direitos Reservados

100 anos da morte de Kafka em exposição na Biblioteca Municipal do Porto

É um percurso de vida comentado e ilustrado aquilo que propõe “Franz Kafka, um homem do seu e do nosso tempo”, exposição que assinala os 100 anos da morte do escritor checo que gerou o termo “kafkiano”, descrito num dos textos da mostra como “situação absurda em que uma pessoa é colocada contra a sua vontade, como, por exemplo, em negociações sem saída com as autoridades”, e que teve o seu exemplo mais emblemático no romance “O processo”, lançado após o falecimento do autor, aos 40 anos, em 1925.

Promovida pela Embaixada da República Checa em Portugal, a exposição, patente na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, no Porto, inclui desenhos a tinta negra da artista checa Renáta Fucíková, que registam episódios biográficos e evocam o seu universo literário, além de captarem ambientes de Praga, cidade onde nasceu o escritor, um dos mais influentes do século XX.

A acompanhar as ilustrações, em painéis informativos, estão os textos do poeta Radek Maly, que descrevem com clareza as relações do escritor com a família, com o emprego, com o judaísmo e com a literatura, ofício que Kafka considerava ser um “chamamento”.

Sobressai destes materiais um homem distante do ser macambúzio e solitário a que geralmente se associa Kafka. Alguém competente na profissão – chegou a secretário-geral da companhia de seguros onde trabalhou durante duas décadas. Com vida social intensa, frequentando a boémia de Praga com amigos como Max Brod, escritor responsável pela publicação de inúmeros textos que Kafka desejava que fossem incinerados após a sua morte. E uma sensibilidade única: para consolar uma menina que chorava por ter perdido a boneca, escreveu várias cartas assinadas pela boneca em que esta explicava que se tinha casado no estrangeiro.

A receção à sua obra é também abordada: as complexas relações com o poder exploradas em vários textos valeram-lhe a antipatia de nazis e comunistas, e só a partir dos anos 1960 foi plenamente reconhecido.

“Franz Kafka, um homem do seu e do nosso tempo”

Biblioteca Municipal Almeida Garrett, Porto

Até 31 de janeiro

Ricardo Jorge Fonseca