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Caroline Darian processa o pai, Dominique Pelicot, por “violação e agressão sexual”

Foto: Clement Mahoudeau/AFP

À semelhança do que aconteceu com Gisèle Pelicot, Caroline Darian acredita que foi vítima do pai, Dominique Pelicot, e que foi drogada e abusada. Na quarta-feira, anunciou que apresentou queixa contra ele por violação, tentativa de violação, agressão sexual e administração de substâncias sedativas.

Num processo judicial que chocou e correu mundo por Dominique Pelicot ter submetido a sua mulher, Gisèle Pelicot, à violação por dezenas de homens, durante mais de uma década, após a drogar a ponto de ficar inconsciente, o perpetrador das "violações de Mazan”, França, enfrenta agora nova queixa: a da filha, Caroline Darian.

No âmbito da investigação que levou à condenação do homem, também a filha deste agressor foi confrontada com imagens suas guardadas no computador do pai e nas quais surgia vestida com cuecas e com lingerie que não reconhece como suas, deitada em circunstâncias que considera impossíveis – uma vez que tem sono leve e seria sempre acordada se estivesse no pleno das suas capacidades – e que apontam para uma clara situação de inconsciência. Uma disposição nas imagens que mimetizam as mesmas a que tinha sido sujeita a mãe.

Depois de anos a carregar a dúvida se teria sido ou não também ela uma vítima do pai – tal como a mãe – Caroline Darian, de 46 anos, decidiu apresentar queixa contra o pai, na quarta-feira, 5 de março. Na nova acusação, a filha alega que o pai, entretanto condenado a 20 anos de prisão por via do julgamento de Mazan, também a terá violado, sujeito a abuso sexual e na sequência de administração de substâncias que afetavam o discernimento, podendo depois perpetrar os crimes. A informação, avançada pela estação francesa BFMTV, indica que a filha pode também ter sido abusada durante dez anos, entre 2010 e 2020.

No livro que lançou recentemente, "E Deixei de te Chamar Papá" (disponível em Portugal pela editora Guerra & Paz), Caroline Darian detalha o ano negro da descoberta das violações no seio da família, as fotografias e montagens que foram encontradas e que a visavam e os ataques de pânico que passou a sofrer com todo este caso. Na verdade, Caroline relata também que foram encontradas montagens comparativas dela e da mãe.

No livro em que relata o início do processo, Caroline Darian revela as cartas que o pai mandou da prisão a apelar à compreensão da mulher pelo que tinha acontecido e detalhou ainda que foram também encontrados documentos que visavam as cunhadas, ou seja, noras do agressor agora condenado.

Em tribunal e no caso que pendia sobre Gisèle Pelicot, Dominique declarou que “nunca” tocou “na filha”. Contudo, após anos de permanente dúvida e angústia – como relata na obra -, Caroline Darian avança para a justiça francesa.

Recorde-se que a 19 de dezembro de 2024, Dominique Pelicot, de 72 anos, foi condenado à pena máxima de 20 anos de prisão pelo Tribunal de Avignon, no sul de França, por violação agravada. No processo, Dominique Pelicot admitiu ter violado e drogado com ansiolíticos a vítima durante anos para ser abusada por dezenas de desconhecidos recrutados na Internet.

A sentença foi também proferida contra 51 arguidos, com idades compreendidas entre os 27 e os 74 anos, acusados de agressão sexual e violação.

Carla Bernardino