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Suecos boicotam supermercados em protesto contra o preço da comida

Consumidores queixam-se de escalada de preços sem precedentes Foto: unsplash

Na Suécia, milhares de pessoas boicotaram os supermercados, devido aos preços cada vez mais altos dos alimentos. Perante a revolta dos compradores, o Governo sueco promete tomar medidas.

Na semana passada, depois do maior aumento dos preços alimentares dos últimos anos, milhares de pessoas boicotaram as grandes cadeias de distribuição de todo o país.

A organização do protesto, o “Bojkotta vecka 12”, pediu aos consumidores que suspendessem as compras em grandes lojas de alimentos, como o Lidl, a Ica, a Coop e a Willys, como forma de retaliar a escalada dos preços. O movimento ganhou força através das redes sociais como o TikTok e o Instagram, onde as opiniões da comunidade se dividiram. “Não temos nada a perder, mas tudo a ganhar, estão a fazer milhões em lucros à nossa custa”, partilharam online alguns utilizadores.

A ganância do supermercados, os grandes produtores que priorizam o lucro e a falta de concorrência das empresas são as causas apontadas pelos consumidores suecos pela subida galopante de preços. Em sua defesa, os supermercados culpam a guerra, a geopolítica e os preços das matérias-primas ou as fracas colheitas para justificarem os valores.

De acordo com algumas estimativas, no país, o custo de uma família ao longo de um ano com o supermercado aumentou cerca de 2700 euros desde janeiro de 2022, aponta o jornal britânico "The Guardian"

De acordo com o Matpriskollen, um site que acompanha o mercado, o preço do chocolate aumentou 9,2%, o preço das gorduras alimentares subiu 7,2% e o do queijo, 6,4%, sem esquecer o leite e as natas que aumentaram 5,4%. Marcel Demir, estudante sueco, comprovou a subida exacerbada dos preços, depois de controlar o valor do chocolate e das batatas fritas, durante vários dias. “Eu costumava comprar batatas fritas e chocolate, mas os preços subiram muito”, considerou Marcel.

Famílias com filhos e idosos entre os mais afetados

“Os políticos têm de intervir e de acabar com este oligopólio que está a provocar preços elevados, devido à falta de concorrência entre as empresas de produtos alimentares”, exigiu Filippa Lind, uma das líderes do boicote. A jovem espera que a ação, de sete dias, “conduza a uma ação política que baixe indefinidamente os preços dos produtos básicos”.

“Hoje em dia, na Suécia, as famílias comuns esvaziam as contas de poupança e pedem dinheiro emprestado para viverem o dia a dia”, criticou Mikael Damberg, porta-voz económico do Partido Social Democrata (na oposição), no Parlamento sueco.

Elisabeth Svantesson, ministra das Finanças, garantiu que a inflação diminuiu desde que o governo tomou posse em 2022, ano em que atingiu os 10%, e em fevereiro deste ano a taxa de inflação foi 1,3% superior à de janeiro em que se registou 0,6%. A governante reconheceu, no entanto, que “é importante apoiar aqueles que têm mais dificuldades”.

Peter Kullgren, ministro da Agricultura, acredita que a subida dos preços foi causada por diversos fatores internacionais, como o aumento do preço das matérias-primas, provocado pela rutura das colheitas. No entanto, o ministro admitiu que a concorrência no comércio deve ser melhorada. “Os preços dos produtos alimentares aumentaram ao longo do tempo e atingiram os agregados familiares mais fracos a nível económico: famílias com crianças, estudantes e idosos com reformas baixas. É necessário resolver este problema”, afirmou Kullgren.

Na sexta-feira, o governo apresentou uma nova estratégia com medidas que aumentavam a produção alimentar sueca, nomeadamente o lançamento de novos produtos que incentivam a concorrência no setor.

O boicote à Ica, o principal grupo de produtos alimentares da Suécia, responsável por um terço da quota de mercado, deve manter-se ao longo das próximas semanas, o mesmo acontecendo com o produtor de laticínios Arla. A promessa dos organizadores do boicote é de que mais empresas venham a integrar a lista.

“Entendemos as preocupações dos nossos clientes sobre o aumento dos preços dos alimentos e respeitamos o direito de expressarem a frustração”, afirmou a porta-voz da Ica, Jenny Gerdes. A responsável diz ainda que se tornou “mais caro cultivar, produzir, embalar e transportar alimentos, mas também administrar uma loja”.

Mariana Ferreira