Santa Comba Dão

Centro Interpretativo do Estado Novo vai avançar em Santa Comba Dão

A obra anunciada, em 2018, custou mais de 250 mil euros à autarquia Foto: Mariana Rebelo Silva

Autarquia de Santa Comba Dão assinou protocolo com a Associação Cultural Ephemera. O desejo do autarca é abrir portas em junho.

Parece que é desta: o Centro Interpretativo do Estado Novo (CIEN) – Regime e Resistência vai ser uma realidade. O projeto vai nascer na Escola Cantina Salazar, mandada construir pelo ditador português e inaugurada em 1940, no Vimieiro, em Santa Comba Dão, terra Natal de António Oliveira Salazar. O desejo do autarca é que abra portas em junho.

“É um momento que há muito esperávamos. Este projeto, que já teve tantas etiquetas e rótulos, encontra um caminho sem retorno”, começou por dizer o autarca, Leonel Gouveia, na assinatura do protocolo de cooperação para a concretização do CEIN.

Desta vez, a Câmara Municipal escolheu como parceira a associação Cultural Ephemera, de José Pacheco Pereira, que está a trabalhar na comissão científica, da qual já fazem parte a investigadora Luísa Tiago de Oliveira, Rui Feijó e Eduardo Marçal Grilo, especialista na Educação do Estado Novo.

“Não será um local para os saudosistas, nem será um local para os grupos que se opõem a este projeto”, esclareceu o autarca santacombadense, Leonel Gouveia.

Nem homenagem nem resistência

Numa visita ao edifício, José Pacheco Pereira garantiu que o espaço “não é um museu Salazar” nem um “museu da resistência”. “É um centro de investigação e de documentação muito importante na história. Quarenta e oito anos de ditadura é a mais longa ditadura do séc. XX, à exceção da União Soviética”, explicou, adiantando que o espaço estará aberto “ou para ver exposições ou para trabalhos de investigação”.

Para já, o historiador está a preparar, em conjunto com a sua equipa, a instalação de uma biblioteca no piso debaixo do edifício e aproveita para fazer um apelo.

“Todos os dias dezenas de milhares de documentos, desde fotografias a objetos são destruídos. Vamos combinar as recolhas e chamar a atenção das pessoas que muitas coisas a que não dão valor são muito importantes para esta história”, enalteceu José Pacheco Pereira.

A Ephemera apela, assim, a que todos os que tenham documentação do período entre 1926 a 1974, que a entreguem em Lisboa, Coimbra, Aveiro, Figueira da Foz, Viseu e, futuramente, em Santa Comba Dão.

O projeto do Centro Interpretativo do Estado Novo tem tido, ao longo das últimas duas décadas, avanços e recuos e há muitos que se opõem à sua existência. “Vamos colocar agora câmaras de segurança, mas não temos grande receio que possa haver atos de vandalismo”, admitiu o autarca.

A obra anunciada, em 2018, já custou mais de 250 mil euros à autarquia.

Mariana Rebelo Silva