Desporto

José Mendes: "Espero vencer nem que seja por um golo de penálti"

José Gomes Mendes conta com o apoio de várias SAD, entre elas do F. C. Porto e Braga. Centralização dos direitos audiovisuais é dossiê prioritário Foto: Direitos reservados

José Mendes, candidato à presidência da Liga, diz ter a melhor equipa na corrida à sucessão de Pedro Proença na liderança da Liga.

José Gomes Mendes, que há dois anos lidera a Assembleia Geral (AG) da Liga Portugal, é candidato à presidência da Direção do mesmo organismo, nas eleições de 11 de abril, onde terá de enfrentar Reinaldo Teixeira. Em entrevista ao JN, diz-se convicto de ter reunido a melhor equipa e espera vencer o alto eleitoral.

O que o leva a candidatar-se?

A paixão é importante. Gosto do desporto, do futebol profissional, tenho envolvimento ao nível de dirigismo e acho que estamos num momento importante, com grandes mutações. Entendo trazer uma proposta de valor, com uma equipa competente. Face ao que tem sido a concorrência, apresento-me, com projeto de futuro.  

Nos seus planos iniciais para 2025 cabia este objetivo?

Não. Tomei uma decisão tardia. Havia vários concorrentes na praça, pró-candidatos, entre eles o que ficou. Aparentemente será mais um apenas, que já está no terreno há mais tempo. Sou presidente da AG há dois anos , conheço os dossiês, acompanho o futebol nacional e internacional, fui capaz de rapidamente fazer um diagnóstico, ver as prioridades e reunir uma equipa de excelência. 

A disputa eleitoral volta após duas eleições sem oposição. Não teme uma Liga dividida?

Muito mal vai o futebol português se se achar que haver duas candidaturas, de equipas diferentes, significa uma Liga dividida. Vivemos numa democracia, temos é de perceber que há dois projetos. As SAD devem avaliar e escolher os que acham mais competentes e preparados, mas no dia a seguir à eleição temos de estar todos unidos, a trabalhar na mesma direção.

Vencer por um voto basta?

Vencer é vencer, como se diz no futebol. Nem que seja por um golo de penálti, desde que seja bem assinalado. É fundamental ter a grandeza de reconhecer os méritos do adversário, sermos capazes de unir e andar para a frente.

F. C. Porto e Braga apoiam-no. O Benfica e o Sporting estão com a outra candidatura. É o regresso da guerra Norte/Sul?

Isso não faz sentido, nem está no pensamento. Somos demasiado pequenos para divisões. Tenho o apoio de várias SAD. O número tem crescido, sobretudo nos últimos dias e estou otimista. F.C. Porto e Braga já o fizeram. Da outra candidatura não ouvi manifestação de apoio dos clubes referidos.

Villas-Boas, líder do F.C. Porto, disse-o em entrevista ao JN que tem melhor equipa do que o seu rival. Como viu esse elogio?

Com agrado. É sinal de que olhou com cuidado para as nossas propostas e currículo. Para dirigir uma liga profissional é preciso pessoas que saibam de futebol. Bom, trago talvez a pessoa que mais sabe em Portugal sobre direitos audiovisuais aplicados ao futebol, que é Pedro Mendonça, e José Couceiro, que tem um currículo desportivo à prova de bala. Foi diretor geral de clubes tão grandes como o Sporting  e menos grandes como o Alverca, que já agora são do Sul (risos).  Aponto o meu próprio currículo. Tenho muita experiência de condução de negociações.´Estive cinco anos no Governo.

Ainda vai tentar obter o apoio dos grandes de Lisboa?

Tenho esperança e dou esse crédito, a Benfica e Sporting, de olharem para as propostas e equipas. Têm pessoas capazes de o fazer. Também o F.C. Porto, o Braga e outros o fizeram.  Acredito que reconhecerão que o nosso projeto é mais forte e que ainda possa vir a beneficiar do voto deles. 

Candidatar-se a substituir um presidente que à frente do organismo deu sucessivamente lucro é um desafio acrescido?

É sempre um desafio. O nosso antecessor [Pedro Proença] teve sucesso e elevou a Liga. Quem não se considera à altura é melhor não estar aqui e eu acho que estou.  

Como líder da AG, como é que se vai posicionar no sufrágio?

Como acredito firmemente que vou vencer esta eleição terei de resignar ao lugar e nessa altura teremos de encontrar uma solução.  

E no dia das eleições?

O vice-presidente dirigirá os trabalhos. Estatutariamente não o tinha que fazer. Quando as equipas se recandidatam têm de gerir a AG. Mas, por princípio, pedi escusa.

Se perder demite-se da presidência da AG?

É um cenário no qual não trabalho. Eu acho que vou ganhar.

Conta com o apoio de Pedro Proença? O outro candidato diz que tem o apoio dele...

Diz, mas nunca ouvi esse apoio. Não acho que exista, nem que o presidente da Federação se deva manifestar. É um homem institucional... Não invoco o apoio de alguém que não o deve fazer. Mas se me perguntar se Pedro Proença, que trabalhou comigo e que me pediu para trabalhar com ele em várias ocasiões, tem confiança na minha preparação, acho que posso dizer, sem exagero, que esse será o entendimento dele.    

Qual é a sua opinião sobre Reinaldo Teixeira?

Não faço juízos de valor.É uma pessoa que apresenta uma candidatura com toda a legitimidade e é estimável. O debate aqui não são pessoas, são projetos e equipas. 

Qual será a sua primeira medida, caso seja eleito?

É montar uma equipa para começar a trabalhar no modelo da centralização dos direitos audiovisuais. Preparar o dossiê de investimento estratégico nas infraestruturas das sociedades, nomeadamente nos estádios. Depois vamo-nos sentar com a Federação e o presidente e planear a agenda comum para o futebol profissional.

A Liga tem dado lucro, mas muitos clubes vivem aflitos. Como poderá melhorar a situação?

Temos de reforçar a classe média das SAD em Portugal, que é frágil. Isso significa trazer-lhes mais dinheiro. Mas, em simultâneo, não podemos fragilizar os clubes de topo, que são quem nos garantem receitas nas provas europeias, a principal fonte de receita das duas ligas. Procuraremos indexar aos resultados da Liga, uma maior distribuição direta de dinheiro.  

A centralização deverá marcar a agenda do próximo presidente. O que pode ser feito para subir os valores a atribuir às SAD?

Com o princípio, já foi testado noutros campeonatos como em Espanha, de fazer subir o valor mediático das nossas ligas. Se essa trajetória for definida temos de procurar um parceiro estratégico  - não é um especulador – que possa trazer investimento à partida e permita libertar dinheiro, para melhorar já o produto das SAD. Mas não é com o produto e o mercado de hoje que estamos à espera que o valor vá duplicar. Com este método testado na La Liga poderá ser possível. Os números não são iguais, mas a metodologia e abordagem pode ser paralela.

O Benfica, que tem transmitido os jogos em canal próprio pago, admite perder receitas?

Terá de ser enquadrado no que vai ser a centralização. Que Benfica, Sporting ou o F.C. Porto digam que não querem recuar nas receitas é o mais natural. Defendem os próprios interesses. Em Espanha foi assim. Temos de encontrar uma trajetória de elevação do produto e do valor, criar um modelo de transição que permita trazer dinheiro a todos. Não está no nosso pensamento fragilizar os clubes de topo. Isso seria muito mau. Mas é preciso encontrar espaço de consenso, para garantir que satisfazemos as ambições a todas as SAD.  

Teme que a Polícia faça na Liga uma operação de buscas semelhante ao que fez na Federação?

Porquê? Acho que não tenho razão nenhuma para pensar nisso.

Mas belisca as instituições...

Tudo o que seja dessa natureza e envolva um setor não é positivo.  O ideal é que nunca acontecesse. Na Liga quero acreditar não haver razões para isso.

O que poderia dizer, em jeito de mensagem final, a quem ainda não lhe manifestou apoio?

De  forma muito séria, olhe para o nosso projeto, equipa e para o nosso concorrente. Decidam onde está a proposta mais forte e votem. Não faz sentido agarrar-nos a pseudo compromissos do passado, quando não havia duas candidaturas e com isto termos uma decisão fechada. É preciso olhar, olhar... 

Admite vir a arrepender-se ter avançado para este projeto?

Não me arrependo de nada. Só é derrotado quem desiste de lutar. 

Está preparado para deixar de ir sossegado ao futebol?

Claro. Quando se assume uma responsabilidade destas, perde-se alguma discrição. Mas isso faz parte do compromisso que assumo: trabalhar para fazer crescer o futebol português e melhorar o jogo para todos - dentro e fora do campo. 

João Faria