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Fátima é empregada doméstica por gosto: "O dinheiro não é tudo. Os patrões sempre me ajudaram"

Fátima Ferreira afirma que trabalha como doméstica por gosto Foto: Leonel de Castro

Empregada doméstica há 36 anos na mesma casa, Fátima Ferreira considera-se em família.

Nascida na Ribeira de Viana do Castelo, “num sábado às 4 da manhã”, como a sua mãe de 95 faz questão de lhe recordar, Fátima Ferreira, de 59 anos, é empregada doméstica há 36 anos na mesma casa. Considera que os patrões, um casal de médicos, com três filhos, de Viana do Castelo, são a sua “família do coração”. Até porque não se esquece que, quando tinha 51 anos, lhe realizaram um sonho de criança, numa viagem com direito até a pequeno-almoço “servido pela doutora”.

“Fui numa viagem à ilha da Madeira com a senhora doutora. Foi a melhor prenda do Mundo. Desde pequenina que tinha o sonho de ir e a minha patroa levou-me. Aquilo é que foram férias a sério. Era a senhora doutora que me servia a mim, em vez de eu a ela”, conta, divertida.

Divorciada, mãe de uma filha e avó de três netos, Fátima afirma que trabalha como doméstica por gosto. “Faço a comida, a lista das compras, passo a ferro, limpo”, descreve, referindo que esse foi praticamente sempre o seu ganha-pão. “Faço os meus descontos e foi sempre do que vivi. Separei-me com 49 anos e continuei sempre a viver disto”, afirma.

Devota “de todos os santos”, mas “com preferência pelo “Santinho Padre Cruz”, Nossa Senhora de Fátima e Senhora d’Agonia”, Fátima Ferreira, louva quem lhe paga o ordenado que, não sendo alto, lhe permite viver tranquila.

Vida nem sempre fácil

“O dinheiro não é tudo. Nunca pensei muito em cifrões. Posso não ter um bom ordenado, mas tenho muito apoio. Os meus patrões sempre me ajudaram em tudo. Tratam-me como família”, confessa.

Mas a vida nem sempre a tratou bem. “Comecei a trabalhar com sete anos, a vender porta a porta o peixe que o meu pai trazia do mar. Chorava na escola. Chamavam-me peixeira. Tinha vergonha”, lembra.

Depois teve a primeira experiência como empregada doméstica, que durou um mês. “Quando acabei a escola, com 15 anos, fui trabalhar às escondidas para casa de um advogado, tomar conta de um bebé e ser empregada. Ia ganhar dois contos, mas o meu pai descobriu e tirou-me. Queria que fosse peixeira de profissão”.

A mais nova de seis irmãos, chegou a ir com a mãe “para as feiras vender camarão da costa cozido”. “Quando o meu pai morreu, eu tinha 16 anos, fui para uma casa trabalhar e tomar conta de um menino que hoje é advogado. Estive lá seis anos. Saí quando casei e os meus antigos patrões foram meus padrinhos de casamento”, recorda, concluindo que, mais tarde “apareceu a oportunidade” de ir para a casa onde entrou pela primeira vez em 2 de novembro de 1988 e ainda hoje está. 

Ana Peixoto Fernandes