Foi pela mão do meu pai que fui pela primeira vez ao estádio do Bessa. Não sei que idade tinha, mas sei, porque a minha mãe me contou que era ainda bebé de colo.
Cresci nas bancadas do Bessa, entre gritos de golo e impropérios ao sr. árbitro… O meu pai era verdadeiramente boavisteiro. Não era do Benfica e do Boavista, não era do Sporting e do Boavista, não era um portista que torcia pelo Boavista quando este jogava contra os grandes, incluindo o Belenenses, de Lisboa. Era apenas e só, sempre, xadrez! Fosse contra quem fosse, fosse em que circunstâncias fosse!! E foi com ele que aprendi a ser do Boavista, e o que significa ser Boavista!!
Ser do Boavista é saber que há clubes com mais adeptos, que há alguns clubes com mais títulos, que há clubes com mais poder e dinheiro, mas é, acima de tudo, saber que não há maior clube do que o Boavista FC! O Boavista é maior que todos eles juntos (somados ou multiplicados). E já provamos isso vezes e vezes sem conta: como aconteceu na conquista do campeonato nacional de 2000/2001, na conquista das taças de Portugal de 1975, 1976, 1979, 1992, 1997, nas supertaça de 1979, 1992, 1997, e também nas nossas noites de glória europeia contra o LFC, BVB e Atlético de Madrid, entre outros, que se achavam (até terem que ir ao Bessa) superiores ao Boavista.
Esse carácter único, que se revelou ao país e ao mundo, nos nossos maiores títulos, é muito anterior a essas conquistas; esse espírito "inderrotável" foi forjado no interior do estádio do Bessa, nos anos em que lutávamos pela 3.ª/4.ª posição no Campeonato. Em todos os dérbis contra o Porto, onde eles (portistas) perceberam que 90 minutos são muito tempo e que, no Bessa, ninguém os “teme”; nos mais de 30 anos que o Sporting não passou na nossa casa; nas batalhas contra o Vitória de Guimarães; nas visitas à Luz; na disputa, sem medo, de todas as bolas, fosse contra quem fosse e, sobretudo, que no Boavista não seguimos na sombra de ninguém.
E quando, em 2008, quase desaparecemos (para que outros se mantivessem à tona), o espírito do Boavista mostrou toda a resiliência que se vive no Bessa e, através dos nossos GRANDES atletas das restantes secções, desde o futebol feminino, futsal, ginástica, voleibol, andebol, ciclismo, kickboxing e da NOBRE ARTE (onde somos a maior referência nacional) - continuamos, mesmo sem condições, a ganhar títulos nacionais para o Boavista.
Depois de um campeonato sofrido que acabou com a inevitável despromoção, (onde nada faltou, desde os ordenados em atraso, impossibilidade de inscrever novos jogadores, corte da luz, falta de água quente, falta de equipamentos de jogo, etc) depois das constantes notícias de não inscrição nas ligas profissionais acrescida da ameaça de cair para as divisões distritais, ficamos a assistir, em direto, ao arrombamento da nossa porta (como que se um estádio tivesse uma única entrada - os miúdos de Ramalde entram no Bessa à hora que querem e também não tem chave) para sabermos que não fomos traídos pelos nossos inimigos. Afinal, num período muito delicado da nossa vida fomos traídos internamente, fomos traídos por aqueles que nos devia proteger, fomos traídos por aqueles que estavam ao comando… Nada que, na verdade, já não soubemos, pois Boavista sempre teve melhores atletas e melhores adeptos e do que dirigentes.
Por isso, quem conhece a história do Boavista sabe que, ser boavisteiro, significa que não tens a opção de te render, significa saber que em momentos como estes vamo-nos reinventar, renascer. Vamos fazer o que tivermos que fazer para voltar para o nosso lugar, que não é, nem nunca foi, entre os grandes, mas acima deles!!!!
*Sócio do Boavista e advogado