Cultura

Youssou N’Dour: a liga dos primeiros na world music

Youssou N'Dour atraiu multidão ao Castelo de Sines Foto: Nuno Pinto Fernandes

Cantor senegalês estreou-se com brilho de cometa no Festival Músicas do Mundo, em Sines, que apresenta dezenas de concertos até à madrugada de domingo.

Um pequeno tumulto à entrada dos bastidores do palco do Castelo de Sines, no final do concerto de Youssou N’Dour, com dezenas a tentarem furar para oferecer lembranças, ou lograr uma selfie com o astro senegalês, é coisa pouco vista no Festival Músicas do Mundo (FMM) – e sinal de que acontecera algo extraordinário. Com efeito: a atuação de Youssou entra diretamente para um restrito panteão do festival que celebra 25 edições com 49 projetos de 35 países. Depois da passagem por Porto Covo, a segunda etapa cumpre-se em Sines até domingo de madrugada.

Todos os anos sobem àquele palco grandes bandas e orquestras africanas, mas ontem foi “noite de champions”. Youssou N’Dour está noutro patamar. O artista que se fez global a partir de “The lion” (1989) reúne, desde logo, um escol prodigioso de músicos – e aquela secção rítmica fará corar as centenas que ensaiam batucadas na orla do Castelo durante estes dias. Cria um ritmo trepidante e enleante através de mãos virtuosas e exímias.

Da multidão em palco saem também cordas, metais e eletrónica que desenham uma afro-pop embebida em géneros como o ‘mbalax’ ou o blues do deserto. Sai um acrobata, não exatamente magro, que executa movimentos impossíveis e incita o público a coreografias um pouco mais acessíveis. E sai a voz de Marema Diop, que acompanhou Youssou no seu célebre “7 seconds”, composto em parceria com Neneh Cherry, em 1994.

Na cúpula de tudo isto está o cantor que já foi ministro do Turismo do Senegal. Youssou tanto faz das palavras elementos rítmicos com eco tribal, como estende toda a capacidade vocal que levou a revista “Rolling Stone” a incluí-lo nos “200 maiores cantores de sempre”. E, assim, passamos da ação frenética à balada para os isqueirinhos (agora smartphones caríssimos). Da trovoada de tambores ao espaço íntimo de uma flauta. Percebe-se aquele desespero final para tocar no homem.

De qualidade superior foi também o concerto de Julieta Venegas, estrela mexicana que arrecadou nove Grammys Latinos e sete prémios MTV. Frescas como gelados, as suas canções tocam todo o espectro de uma relação – do milagre do encontro (“Andar conmigo”) à resignação da despedida (“Me voy”). Tudo contado através de uma voz aberta e solarenga e pop requintada onde brilha o acordeão de Julieta.

Nota ainda para a atuação de Bonga, o histórico cantor angolano de voz rouca e engelhada que gravou mais de 40 discos desde 1972. E para o concerto que inaugurou a fase mais intensa do FMM: Lena D’Água, saltando entre os seus êxitos pop dos anos 1980 (“Robot” ou “Vígaro cá, vígaro lá”) e os temas do seu álbum de regresso - “Tropical glaciar” (2024).

Consulte aqui os horários do festival. 

Ricardo Jorge Fonseca