Nas últimas décadas, Gaia viveu sob o domínio quase ininterrupto de maiorias absolutas. Primeiro com Luís Filipe Menezes (PSD, de 1997 a 2013), depois com Eduardo Vítor Rodrigues (PS). Estilos diferentes, mas algo em comum: controlo quase total da máquina autárquica, resultado de sucessivas maiorias absolutas.
Estas maiorias parecem traduzir estabilidade. Mas, vistas mais de perto, vemos que a falta de equilíbrio de forças traz riscos sérios para a saúde da democracia.
Em Gaia, muitos sentem que "já sabem quem vai ganhar" e que o voto pouco muda. Uma sensação de inevitabilidade perigosa. Numa democracia, não deve haver vencedores eternos. O debate e o contraditório são sinais de um sistema vivo. Quando um grupo mantém o poder durante tantos anos - com maioria absoluta na Assembleia Municipal e nas freguesias -, o risco de abuso aumenta.
A ausência de uma oposição com peso leva a que as decisões passem sem verdadeiro debate público. Os serviços municipais tornam-se extensões do poder político, a informação circula mal e a transparência torna-se mais uma palavra do que uma prática.
Os perigos deste poder absoluto são muitos: nomeações sem transparência, por afinidades políticas em vez de mérito, instituições locais dependentes de apoios municipais, o que inibe a crítica e o papel fiscalizador da sociedade civil, decisões estruturais tomadas sem consulta pública real, com pouca participação cidadã e audiências simbólicas, centralização de decisões num núcleo restrito, em vez de governação coletiva e aberta.
Não são exclusivo de Gaia, mas o concelho vive-os há demasiado tempo. E não se trata de ideologia: com PSD e com PS, o modelo de governação tem sido semelhante.
Neste contexto, a coligação do Bloco, Livre e independentes tem assumido um papel fundamental como voz crítica, fiscalizadora e propositiva na vida política local.
Esta coligação representa: uma alternativa ao modelo de poder absoluto em Gaia, mais transparência, orçamentos participativos, consulta pública efetiva e acesso à informação para todos, recolocar os cidadãos no centro da decisão, promovendo participação, justiça social e equilíbrio ambiental.
Temos denunciado irregularidades, feito propostas claras e mantido uma postura coerente - mesmo enfrentando o bloqueio sistemático da maioria.
Nem todas as mudanças se fazem a partir do executivo. Uma oposição firme, preparada e com princípios é essencial para que o poder sinta que não pode tudo. E é isso que esta coligação oferece: vigilância democrática, propostas com sentido de justiça social e uma visão de concelho participada e plural.
É tempo de Gaia deixar de ser uma terra onde tudo parece estar decidido antes do voto, de abrir espaço à diversidade, ao debate e à construção de um modelo de governação mais transparente, mais próximo das pessoas e mais justo.
A democracia local não se esgota nas maiorias. Alarga-se com vozes livres, crítica construtiva e projetos que recusem o silêncio e a resignação.