Casal de Leça da Palmeira vai lançar-se na aventura da sua vida e promete ajudar animais pelo caminho. Destino: Cidade do Cabo.
Havia anos que Filipa e Diogo Frias construíam nas suas mentes um projeto gigante, maior do que todos aqueles que já os levaram um pouco por todo o Mundo. Sonhavam com algo em grande. Algo que coubesse no abraço com que iniciaram a "carreira" de viajantes, um salto em estrela e o nome Intrepid Jumpers.
"Qual é o sítio que conhecemos menos?", perguntaram um ao outro. A resposta estava ali, praticamente ao virar da esquina deste nosso luso jardim: África. Porque já se tinham inebriado com relatos alheios, particularmente o de Tiago Carrasco, João Henriques e João Pedro Fontes, "Até lá abaixo", ou a ida de Portugal à África do Sul para ver a bola a rolar no Mundial de Futebol de 2010 - e para viver intensamente a viagem até lá. "Como o Diogo é veterinário, metemos os animais na equação", conta-nos Filipa, ela arquiteta de interiores. Missão: Vet Solidária. Dar assistência gratuita a animais.
"Há animais muito carenciados, vadios, com doenças, problemas de pele..." e, sobretudo, há falta de condições para tratar deles. Sim, os Intrepid Jumpers sabem que ajudar todos quantos precisem é "missão impossível" - "Não podemos ajudar todos, mas tentaremos ajudar o que aparecer", com tratamentos, medicamentos, pequenas cirurgias e as esterilizações possíveis.
A dada altura da conversa, foi preciso fazer a pergunta mais difícil: havendo seres humanos em sérias dificuldades em África, não poderá ser olhado de lado um projeto focado nos animais? "Poderá haver quem critique, mas nós não temos formação para ajudar pessoas. Vamos contribuir da única forma que podemos ajudar", diz Filipa. Enquanto vivem "uma aventura" transformadora.
"Mais do que uma simples travessia geográfica, trata-se de uma experiência de vida, impulsionada pelo desejo de descoberta, de contacto e contributo com outras culturas e de superação pessoal."
Mas, ainda antes da definição do projeto, sonho precisava de um meio para se concretizar. A ideia era descobrir um jipe que pudessem transformar colocando-lhe um tenda rebatível no tejadilho e fazer dele a sua casa pelo tempo de uma aventura sem prazo definido. A sorte sorriu-lhes: o jipe que lhes apareceu foi uma velha ambulância militar IVECO de 1990. Começaram a remodelá-la há mais de um ano, desmontada e remontada com paciência e um investimento de 85 mil euros, e têm hoje uma casa sobre rodas a que decidiram chamar Adamastor, "um símbolo dos Descobrimentos, de aventura, resiliência e história". Um símbolo de obstáculo, também, que contam ultrapassar com tempo, sem pressa.
O casal arranca de Leça da Palmeira, Matosinhos, no dia 8 de setembro. No mapa, assinalou mais de 20 nações até dobrar o Cabo da Boa Esperança, num plano que pode alterar-se, ou não fosse África "um dos continentes mais desafiantes do Mundo". Certa é a interrupção para o Natal, porque o Natal é família, esperam por então andar a cruzar o Senegal, já com Portugal, Espanha, Marrocos e a Mauritânia para trás. Somar-se-ão, se "as eventualidades" assim o permitirem, Gâmbia (encravada no Senegal), Guiné-Bissau, Guiné, Serra Leoa, Libéria, Costa do Marfim, Gana, Togo, Benim, Nigéria, Camarões, Guiné Equatorial, Gabão, Congo, RD Congo, Angola, Namíbia e a meta, África do Sul. Quando? "Estamos convencidos que lá para setembro de 2026 ou junho de 2027". Uma janela tão larga quanto as possibilidades.
"Acreditamos que as grandes histórias nascem da coragem de arriscar. Queremos mostrar que é possível viver de forma autêntica, guiados pela paixão por este Mundo. O Adamastor representa para nós o desconhecido, o medo que queremos enfrentar e ultrapassar. Partimos sem data de regresso, com o coração aberto à experiência e a mente disponível para o impensável que esta jornada nos possa trazer."
Resta-nos desejar-lhes a melhora das viagens e acompanhar-lhes os rodados nas redes sociais.