Os Estados Unidos ativaram hoje a nova política de tarifas de 50% sobre exportações da Índia como punição pela compra de petróleo à Rússia, alvo de sanções devido à guerra contra a Ucrânia.
Em causa, estão exportações indianas no valor de cerca de 60 mil milhões de dólares (51,7 milhões de euros, ao câmbio atual).
A Rússia já declarou estar pronta para absorver as exportações indianas mais afetadas pela punição norte-americana.
A chave da medida reside na seletividade, dado que atinge indústrias de alta empregabilidade, como o setor têxtil, mas isenta setores estratégicos, como o farmacêutico e o eletrónico.
Principais dados sobre o que mudou a partir de hoje, num trabalho da agência de notícias espanhola EFE:
Setores atingidos
Washington visou diretamente os setores que são o coração do emprego na Índia, formados por milhares de pequenas e médias empresas.
A estratégia é clara: se essas indústrias sofrerem, aumentará a pressão sobre o Governo indiano.
Vestuário e têxteis - Este setor, que exporta por ano quase 11 mil milhões de dólares (9,4 mil milhões de euros) para os Estados Unidos, é o mais afetado.
Com uma tarifa efetiva que chega a 63,9%, uma camisa indiana torna-se inviável em relação aos concorrentes do Vietname ou do Bangladesh.
A medida já levou compradores norte-americanos a cancelar encomendas e ameaça os grandes centros de produção das cidades indianas de Tiruppur, Noida e Bengaluru.
Joias - A indústria indiana de joalharia, que vende anualmente 8,6 mil milhões de euros aos Estados Unidos, classificou a medida como "um apocalipse".
A nova tarifa de 52% ameaça até 200 mil empregos, principalmente nos centros de lapidação de diamantes das cidades de Surat e Bombaim.
Marisco e agricultura - Os camarões indianos pagam agora uma tarifa de 60% para entrar nos Estados Unidos, enquanto os do concorrente Equador pagam apenas 15%, o que representa uma desvantagem brutal.
A medida coloca em risco os aquicultores de estados costeiros como Andhra Pradesh.
O mesmo ocorre com produtos agrícolas no valor de 5,1 mil milhões de euros, como o arroz basmati ou especiarias, abrindo as portas para que a Tailândia ou o Paquistão vendam mais.
Componentes para automóveis - Metade dos 6,6 mil milhões de dólares (5,6 mil milhões de euros) que a Índia exporta neste setor paga agora 50% de tarifa, incentivando os compradores a procurar alternativas como o México, onde a tarifa é de 0%.
Peças para caixas de mudanças são as mais afetadas.
Os setores "perdoados"
A Casa Branca (presidência) tem sido cuidadosa em não punir produtos que são importantes para as empresas ou para o bolso dos cidadãos norte-americanos.
Medicamentos (farmacêuticos) - A Índia é a "farmácia do mundo" e um fornecedor fundamental de medicamentos genéricos baratos para os Estados Unidos. Aplicar-lhes uma tarifa significaria aumentar o preço dos medicamentos para os próprios norte-americanos.
Calcula-se que cerca de 40% dos medicamentos genéricos consumidos nos Estados Unidos sejam produzidos na Índia.
Isso inclui medicamentos como a atorvastatina (para controlar o colesterol), a metformina (o tratamento mais comum para diabetes tipo 2), a amoxicilina e o omeprazol, todos produzidos em grande escala por gigantes indianos como Sun Pharma, Dr. Reddy's e Cipla.
Eletrónica - Gigantes como a Apple fabricam muitos telemóveis na Índia e ficaram isentos.
Outros produtos eletrónicos no valor de 4.000 milhões de dólares (3,4 mil milhões de euros), como carregadores de baterias, foram penalizados com a taxa de 50%.